YA NOS ESTOY AQUI — Ihering Guedes Alcoforado

Ihering Guedes Alcoforado
3 min readMar 8, 2022

--

Ya no estoy aquí, (2019) é o segundo filme (o primeiro foi Reseta , 2012) do diretor mexicano Fernando Frías de la Parra, os quais tem em comum a busca por captar os sentimentos e a transformação de quem migra, tendo como pano de fundo o enfrentamento das culturas.

No caso de Ya no estoy aqui o foco é na “cumbia rebajada” um subgênero musicial derivado da “cumbia colombiana” e da “cumbia mexicana” que se insere na Kolombia, uma subcultura urbana surgida em Monterrey e que teve seu apogeu nos 2000. E a trama é articulada em torno de um adolescente, Ulises protagonizado por Juan Daniel García Treviño (Derek). amante da “cumbia rebajda” e bem inserido no seu grupo, mas que é obrigada a migrar para os Estados Unidospor uma gangue que atua na sua comunidade em Monterrey, por meio do que se cria o cenário canônico explorado pelo diretor: migração e choque cultural.

A referência cultural mexicana é expressa por meio dos amantes da “cumbia colombiana”, um movimento de ressistencia cultural criado no âmbito da “Kolombia”, ao qual se associa um estilo estravagante, e é encarnado no filme por Ulises protagonizado por Juan Daniel García Treviño (Derek) que busca , consolidara o desejo qualquer jovem: ser único e diferente por meio da moda e da música.

Em função disso, um dos destaques do filme são o guarda-roupa e o penteado do personagem: dois elementos que se tornam muito importantes na narrativa, fato destacado em editorial da Vogue mexicana. Isto porque, ainda segundo o referido editorial, a indumentária e o penteado dão ao espectador a chave para se localizar nos tempos do filme , que consiste na vida de Ulises em Monterrey e New York , fazendo saltos entre o presente e o passado. Roupas e cabelos são, portanto, pistas para entender a estrutura dos flashbacks do filme. Sua estética é muito forte em Monterrey e começa a desaparecer em New York ao ponto de cortar as costeletas e a franja. Ao identificar essas diferenças, fica claro que momento Ulises está vivendo: sua vida em Monterrey com os Terkos, dançando cumbias descontadas; quando chega a New York fugindo por causa do mal-entendido; e finalmente, quando ele volta para Monterrey cheio de saudades e com o cabelo curto.

O filme não foi concebido e executado no afogadilho, muito pelo contrário, é o resultado de um longo processo: desde a primeira versão do roteiro até o trabalho com o elenco em um programa de formação de atores nas arreas perifericas de Monterrey, e, assim, sem cair no populismo cinematográfico, nos coloca diante de uma obra autoral cujo norte não é retratar os marginalizados do desenvolvimento a partir de um distanciamento antropológico ou mesmo de uma negação autoral, mas criado a partir deles, da empatia e da voz de seus integrantes, mas sem abrir mão de uma forte marca autoral.

.

.

--

--

Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

No responses yet