SANGUE NAS ÁGUAS (SZABADSÁG SERELEM) de Goda Krisztina (Ihering Guedes Alcoforado)
SANGUE NAS AGUAS (SZABADSÁG SERELEM) é situado historicamente em 1956 quando se deu a invasão soviética na Hungria, abortando os anseios de democratização que começava a ter suas primeiras concretudes e, avivando os s rancores nacionalistas dos húngaros com relação aos russos.O filme integra dois núcleos dramáticos e que estão expresso no cartaz acima, contando a história de dois andares da oposição húngaro-soviética de acordo com as regras da dramaturgia de Hollywood
A trama da narrativa é introduzida por meio dos clássicos xingamento entre atletas, no caso dos húngaros com conotação política, o que chega ao conhecimento da AVO, criando as condições para o processo de tomada de consciência de Karcs, o que se dar a a partir do seu relacionamento com a jovem líder estudantil que, se inicia durante os preparativos da Greve Geral promovida pelos partidários de Inry Nagy e que pretendia um gabinete de orientação nacionalista que implementassem os anseios de liberalização que pipocavam em vários pontos da cortina de ferro, a exemplo dos acontecimentos coetâneos na Polônia,que chegavam ao húngaros sob suspeitas de fake news, o que ficou evidenciado a partir de uma intervenção de Vick na Assembléia que possibilitou o relato do estudante polonês.
Como já anunciamos acima, o conflito político assume duas configurações que tensionam o trailer por meio de um contraste de dois blocos de imagens que representam os dois campos de enfrentamento político.
De um lado, as imagens do enfrentamento e resistência da população húngara nas ruas de Budapeste à invasão soviética, na sua determinação de manter a Hungria apenas como uma extensão da política soviética no território húngaro: um atentado a soberania desse estado nação que justifica uma resistência armada nacionalista bem expressa no trailer abaixo:
As imagens da reação nacionalista são forte e dramáticas, enfim, hollywoodianas. Tanto as que registram os enfrentamento armados, articulados em torno do personagem de Falk viki (Dobó Kata)
, uma líder estudantil universitária de artes marciais, e que teve sua família dizimada pela AVO, a polícia política húngara, como também as imagens do enfrentamento na piscina, protagonizada pelo personagem de Szabó Karcsi (Fenyő Iván) a estrela do time de Pólo Aquático. Em segundo plano, temos as imagens que tentam apreender a Hungria profunda, a dos símbolos e rancores que motivam tal enfrentamento, e que menos impactantes são expressas em vários planos, que vai desde o personagem recluso do avô de Karcs, a estrela da equipe de pólo aquático.
O encontro desse dois mundos é expresso orgulho nacionalista de Falk viki (Dobó Kata), ao desafiar Szabó Karcsi (Fenyő Iván), a alienada estrela do pólo aquático húngaro, fascinado pelo carisma da jovem Vick, que o desafia a empunhar a bandeira húngara numa manifestação política, num prenúncio da união dos mais diversos segmentos da sociedade húngara na resistência aos soviéticos.
O mundo da identidade nacional e do orgulho nacionalista húngaro é, paradoxalmente, expresso pela sua imbatível equipe de aquático,que tem sua maior expressão em Szabó Karcsi (Fenyő Iván), jovem alienado estrela da equipe que titubeia no empunhar a bandeira húngara numa manifestação ancionalista. Estrela de uma equipe imbatível, até quando os interesses políticos russos não entra nas piscinas, o que ocorreu com sua única derrota para os russos em Moscou, com a ajuda do juíz, nos preparativos para Jogos Olímpicos de Melbourne (Austrália, o ponto de partida para sua tomada de consciência.
Os dois núcleos dramáticos são atados por meio do relacionamento entre as duas jovens estrelas: Vick da política e Karcsi do esporte, os quais representam as duas lutas em curso: de um lado, a luta pela soberania nacional de Vick e, do outro lado, a luta pela identidade e o orgulho nacional de Karcsi.
Ao longo da narrativa, além do foco central na contradição dos interesses político dos russos e dos húngaros expressos tanto nas barricadas como nas piscinas, o diretor põe em cenas algumas das tensões que atravessam a sociedade, a exemplo do seu conservadorismo encarnado na mãe de Karcsi que resiste ao seu relacionamento com Vick, a lider estudantil cuja familia foi disimada pela AVO.
Uma dimensão trazida a tela é a do machismo expresso no dialogo emblemático entre os personagens centrais. O modo de ser dêle (segundo Vick) é o Pólo Aquático, o modo de ser dela (ainda segundo Vick) é êle. Ou seja, uma líder estudantil feminina coloca no seu horizonte, o que aconteceu com sua colega, de se realizar como mãe e dona de casa.
A conclusão não é um final, deixando em aberto múltiplas alternativas para os personagem, nenhuma dela desejável. Não se sabe qual será o destino da jovem estrela do Pólo Aquático, já consciente do seu significado simbólico da equipe para a identidade e o orgulho nacional húngaro,com a iminente decomposição da equipe de pois de ganhar os jogos olímpicos, atraída por vantagens pecuniárias do Ocidente. Do mesmo modo não se sabe qual o destino da jovem Vick que caminha em direção a sala de Tortura da Avo. E tudo isso magnificado pelo canto e musica do hino nacional húngaro: um prenúncio do processo de ressurgência dos nacionalismos na Europa.