SABIA(Sociedade dos Amigos da Biblioteca Municipal Profa Maria Lira) DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS- A Contra-Hegemonia Ecopolítica
SABIA/DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS é o selo por meio do qual se divulgará reflexões sobre os macros desafios contemporâneos manifestos nas mais diversas esferas, a exemplo da política, econômica e cultural,sem perder de vista que diante de um desafio sempre temos um risco e uma oportunidade. O selo será veiculado todas as 4a. feiras às 18:00 hs.
A reflexão que se segue trata do desafio contemporâneo posto pelas múltiplas crises superpostas as quais convergem no reconhecimento da centralidade da problemática ambiental, a partir do que se estabelece um consenso superficial que encobre um dissenso turbulentos. Isto porque cada vez mais as pessoas consideram o aquecimento global como uma ameaça vida tal como a conhecemos no planeta Terra, ao tempo em que não compartem uma visão comum sobre as forças sociais que impulsionam dito processo, nem sobre as mudanças as mudanças sociais necessárias para deter o processo. Ou seja, coincidem (mais ou menos) no que se reporta a ciência, mas dissentem (mais que menos) na política. (DALY & KUNKEL, 2018; POLIN, 2018; SEATON, 2020; LELE, 2020.) [FRASER, 2021:102]
E, como se não bastasse a gravidade da crise ambiental decorrente dos seus efeitos acumulativos e planetário e portanto demandando uma estrutura de governança a nível planetários, ela se manifesta no plano nacional ao mesmo tempo que outras crises: na economia, na sociedade, na política e nos valores; ou seja, é uma crise geral que afeta todo o tecido social, abalando as visões de mundo estabelecidas e a consideração nas elites políticas estabelecidas.
O resultado é uma crise de hegemonia no rastro de uma “fragmentação polarizada” do espaço público, o qual tem deixado de estar controlado por um sentido comum dominante capaz de enquadrar as opções que saiam da norma e torna-se um locus de produção e empoderamento da diversidade identitária que configura a “atmosfera instável” que permeia a ecopolítica.
Em função disso, se estabelece um dissenso climático em decorrência não só da crise climática, mas também do clima político, tornando imperativo a instauração de um novo consenso, o qual deve se assentar num novo sentido comum ecopolítico capaz de orientar um projeto de transformação amplamente compartido, ancorado nos resultados da ciência climática e nos protagonistas sócio históricos del cambio climático.
Por fim, o novo sentido comum necessário a instauração de uma nova contra hegemonia deve transcender o simples «meio ambiente»,conectando seu diagnóstico ecológico com outras preocupações vitais, a exemplo da precariedade das condições de trabalho, a infra-valorização crônica do “economia do cuidado”. Assim, o novo sentido comum deve evitar um «ecologismo» redutivo” de forma a agasalhar a totalidade das principais facetas da crise não ambiental, atando politicamente as conexiones existentes, estabelecendo os fundamento de um novo bloco e contra-hegemônico, que sustente um projeto comum e detenha a influencia política necessária para implementá-lo de maneira eficaz.
Trata-se de um desafio que se coloca no âmbito do possível, dado que todas as crises conduzem a uma origem comum: o capitalismo tal como existentes, o qual representa na sua institucionalidade o que deve ser restruturado, de forma a enfrentar a crise em curso em suas múltiplas manifestações ecológicas e não ecológicas.
Em função disso, se coloca a questão da orientação política com relação ao capitalismo. Uma delas é a orientação anticapitalista proposta por Nancy Fraser, segundo a qual o anticapitalismo, deve converter-se no motivo organizador central do novo sentido comum, tendo em conta o desenvolvimento de um projeto contra-hegemônico potente de transformação eco-social, o que implica a transformação dos movimentos ecologistas em movimentos “trans-meio-ambientais”, situando-os como participantes em um bloco contra-hegemônico emergente, centrado no anticapitalismo que toma o capitalismo como atravessado por uma relação contraditória com a natureza, a qual pode ser resumida em quatro palavras: dependência, divisão, negação e desestabilização. [FRASER, 2021:109]
BIBLIOGRAFIA
DALY, Herman & KUNKEL, Benjamin, «Ecologías de escala», New Left Revivew, 109, marzo-abril de 2018;
POLLIN, Robert, «Por un nuevo New Deal verde»,New Left Revivew 112, septiembre-octubre de 2018;
SEATON, Lola., «¿Pintando el nacionalismo de verde?», New Left Revivew 124, septiembre-octubre de 2020;
LELE, Sharachchandra., «Medioambiente y bienestar», New Left Revivew 123, mayo-junio de 2020.