SABIA (Sociedade dos Amigos da Biblioteca Municipal Profa Maria Lira)- A Influência de Ernst Bloch

Ihering Guedes Alcoforado
3 min readJul 10, 2021

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A SABIA mira uma pequena utopia cívica: Belém alfabetizada e letrada, as bases para uma uma utopia cívica mais ampla: ser locus de um desenvolvimento local sustentável inclusivo.

O avivamento das utopias cívicas em latência na comunidade de Belém é inspirado nos insights de Ernst Bloch, que ao publicar em 1954, o primeiro volume do seu Principio Esperança, por meio do qual evidenciou as várias formas que as utopias adotam em todas as esferas da vida, como a arte, a sexualidade, a literatura, a religião os sonhos, e claro a política.[BLOCH, 1988]

Ernst Bloch é provavelmente o pensador moderno mais importante no trato da função utópica da existência humana e, por isso é muito caro, aos que promovem a SABIA que vêem na esperança não um signo da ingenuidade humana, mas o estímulo necessário a invenção do futuro.

No rastro de Ernst Bloch, os que promovem a SABIA consideram que os belenenses têem não só o direito, mas o dever de sonhar com um futuro melhor, e que esses sonhos se configuram de forma muito distintas das fabulações do espírito enquanto dormem, já que são na verdade pequenos anseios cotidianos, pequenos sonhos diurnos que alimentou nossa comunidade ao longo do tempo e, que já levou a materialização de pequenos sonhos, a exemplo do Colégio Alvaro de Carvalho, criado e mantido com recursos exclusivos da comunidade.

Assim, para a SABIA o ato de sonhar acordado com uma Belém alfabetizada e letrada não é uma atividade privada e soberana efetivada na esfera do individuo, mas uma função da comunidade como um todo. Isolados nas nossas individualidades ficamos a espera dos de cima, do governo. Atados por um sonho comum comunitário somos protagonistas e fazemos acontecer, o que pode ser exemplificado, volto a sublinhar, pelo movimento cenecista que resultou na criação e manutenção pela comunidade de Belém do Colégio Alvaro de Carvalho.

O ponto de partida da SABIA é, portanto, a imaginação de um futuro comum derivado das coisas postas, as quais se admite que contêm em si o poder de ser outra coisa, de se transformar, mas que para tanto precisa ser empurrada por um futuro comum, uma utopia cívica. Essa força de mudança é a Esperança, a qual é desvelada no Princípio Esperança de Ernst Bloch: uma característica aninhada como atributo de todas as coisas do real, desde as grandes causas políticas até os objetos do discreto mundo cotidiano.

Para a SABIA, no rastro de Ernst Bloch, a esperança para ser efetiva como uma força transformadora não pode ser uma espera passiva por tempos melhores, deve se tornar uma iniciativa comunitária ativa de transformação. E, para tanto é preciso considerar a esperança como portadora de uma função utópica que moldou, em parte nosso tempo presente e, que poderá contribuir na moldagem do nosso futuro.

Enfim, a reflexão em curso entre os que fazem a SABIA visa configurar um campo de indagações onde se possa, a partir da Esperança, imaginar os atos de criação que possibilitam a efetivação de num futuro próximo: uma Belém alfabetizada e letrada que forneça os fundamentos de uma trajetória que torne Belém, o locus de um desenvolvimento local sustentável e inclusivo..

BIBLIOGAFIA

BLOCH, Ernst., The Utopian Function of Art and Literature: Selected Essays. The MIT Press, 1988

BLOCH, Ernst.,El Principio Esperanza. Editorial Trotta, 2004

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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