SABIA (Sociedade dos Amigos da Biblioteca Municipal Maria Lira) RESENHAS-A Formação Política e o Trabalho do Professor de Florestan Fernandes

Ihering Guedes Alcoforado
4 min readJul 22, 2021

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SABIA/RESENHAS é o selo que sinaliza a relevância da publicação resenhada para a agenda de P & A (Pesquisa e Ação) dos que formam a SABIA, tendo em vista seus objetivos: i) potencializar os benefícios dos serviços prestados pela Biblioteca Municipal Profa. Maria Lira e ii) contribuir na materialização de duas pequenas utopias civicas: a) a alfabetização e letramento de Belém e, a) o desenvolvimento local sustentável e inclusivo.

No caso em tela, os que promovem o selo SABIA/REVIEWS se juntam aos que hoje, 22 de julho de 2021 celebram o Centenário de Nascimento de Florestan Fernandes, compartilhando uma resenha do seu ensaio A A formação política e o trabalho do professor.

No texto A formação política e o trabalho do professor, Florestan Fernandes reivindica o estudo e a compreensão de nossa condição dependente e subdesenvolvida como parte essencial da formação do professor para o exercício de seu trabalho em sintonia com os desafios educacionais de uma sociedade profundamente desigual e injusta, a partir do que critica ao utopismo daqueles que defenderam a educação pública sem colocar em questão nossas particularidades históricas.

Inicialmente ele coloca três preocupações centrais. A primeira diz respeito à tradição cultural brasileira e ao que ela tem representado na limitação do horizonte cultural do professor, menos na teoria que na prática, chamando atenção que o professor foi objetificado e ainda o é na sociedade brasileira. Ou seja, o professor nunca foi posto num contexto de relação democrática com a sociedade. Ele era considerado como instrumento de dominação e, muitas vezes, ficava nas cadeias mais inferiores do processo.

A segunda preocupação diz respeito à própria correlação entre a atividade do professor, numa sociedade subdesenvolvida, e o caráter político do que ele faz e do que deixa de fazer. No seu entendimento,

“[…] faz parte da situação de um país subdesenvolvido a existência de uma infinidade de situações nas quais o professor precisa estar “armado” de uma consciência política penetrante. Ele é uma pessoa que está em tensão política permanente com a realidade e só pode atuar sobre essa realidade se for capaz de perceber isso politicamente. Por- tanto, a disjunção da pedagogia ou da filosofia e das ciências ou da arte, com relação à política, seria um meio suicida de reagir. É algo inconcebível e é retrógrado. O professor precisa se colocar na situação de um cidadão de uma sociedade capitalista subdesenvolvida e com problemas especiais e, nesse quadro, reconhecer que tem um amplo conjunto de potencialidades, que só poderão ser dinamizadas se ele agir politicamente, se conjugar uma prática pedagógica eficiente a uma ação política da mesma qualidade[FERNANDES, 2019:82]

A terceira é sua tentativa de explicitar o que pensa um marxista, no caso ele, que se auto-considera, não como um marxista, mas como um marxista revolucionário:

“Eu não sou só marxista. Sou um marxista que acha que a solução para os problemas dos países capitalistas está na revolução”,quando se coloca diante de um assunto como este: a formação política e o trabalho do professor. [FLORESTAN, 2019:82]

É portanto desta perspectiva de um intelectual marxista revolucionário que Florestan considera a existência de

“ […] uma vasta gama de potencialidades que se exprimem no campo real, ou seja, é possível conjugar a consciência pedagógica dos problemas da sociedade a uma nova forma de ação prática.”[FLORESTAN, 2019:88]

E, arremata:

“É isto que garante a transformação substantiva. A transformação não é produto do avanço na esfera da consciência e também não é produto de uma elaboração espontânea da realidade. É preciso que a ação prática transformadora se encadeie a uma consciência teórica e prática, que seja, num sentido ou noutro, dentro da ordem ou contra a ordem, revolucionária.[…] Observam-se transformações que estão ocorrendo e que são de profunda significação no meio histórico brasileiro, definindo de maneira diferente a posição e as perspectivas dos educadores.[FERNANDES, 2019: 88–89]

Enfim, as três preocupações centrais de Florestan Fernandes não só expressam a realidade do seu tempo, tanto no que se reporta a realidade concreto como da sua apreensão no plano das idéias e das praticas políticas,e, como tal pode ser considerado como um ponto de partida para uma imersão nas origens dos nossos problemas educacionais nesses dois âmbitos, ou seja na realidade concreta como nas formas de apreende-las e de instrumentaliza-las por meio de ações políticas. .

REFERÊNCIA

FERNANDES, Florestan., 2019 Fernandes A formação política e o trabalho do professo. . Marília: Editora Lutas Anticapital.1ª edição

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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