RONALD COASE E OS ECOS DE ´MAIO 68´: Uma Nota Sobre os Fundamentos Microeconômicos da Crítica de Maio 68 às Organizações Hierárquicas (Ihering Guedes Alcoforado)

Ihering Guedes Alcoforado
3 min readApr 11, 2018

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Ronald Coase foi o economista que mais influenciou a reflexão sobre as organizações quer diretamente via seus artigos seminais (Coase, 1937,1960), quer indiretamente por meio daqueles que retomam seu legado como ponto de partida para suas obras autorais no campo dos estudos organizacionais, a exemplo de alguns recentes “prêmios” Nobel em Economia, a exemplo de livier Williamson, Oliver Hart and Bengt Holmström.

Os estudantes de Maio 68 nos berros e slogans nas ruas e assembléias foram críticos das organizações hierárquicas e do seu consequente autoritarismo, tanto no mundo das organizações políticas, como na esfera das organizações privadas.

A Teoria da Firma coseana configura um ponto de partida, talvez o mais influente, que a comunidade dos estudiosos das organizações, em especial os economistas, tomam para a reflexão sobre a natureza das organizações econômicas e políticas em geral e dos fundamentos das suas configurações hierárquicas e não hierárquicas.

O objetivo dessa nota é evidenciar as afinidades eletivas entre as formulações conceituais e teóricas e Ronald Coase com as denúncias e, proposta dos jovens nas manifestações de Maio 68 focadas nas organizações hierárquicas.

Ronald Coase tratou das organizações tendo em conta a circulação das idéias e dos bens e serviços, do ponto de vista de um economista, ou seja, dos seus custos, em especial os custos de coordenação no interior das organizações e com as outras organizações.

Com relação a circulação dos bens e serviços ele apresentou, pela primeira vez os fundamentos econômicos do porque essa coordenação, ora se dar por meio da firma integrada e hierarquizada, e ora essa mesma coordenação se efetiva via o mercado, alternativa que no entendimento tende a envolver predominantemente as organizações não hierárquicas. O conceito para explicar essas alternativa organizacionais, inclusive a existência das organizações hierárquicas vs. não hierárquicas foi o conceito de custo de transação, os quais dependem não só técnicas disponíveis de manipulação e analise dos dados necessários as decisões alocativas dos recursos, como das instituições que envolvem não só as atividades de transformação internas e externas as organizações mas também as atividades as atividades de controle de todo esse processo

O resultado do programa de pesquisa de Ronald Coase, tal como o legado de 68, oferece possibilidades de múltiplas apropriações. A perspectiva libertária anti-hierárquicas, privilegiada nessa nota, tende a considerar os avanços nas tecnologias de informação e comunicação (TICs) em geral, e, em especial as associadas aos Big data e ao Blockchain como fornecedoras de subsídios a crítica às organizações hierárquicas e a defesa das organizações não hierárquicas. (argumentação a ser desenvolvida em outra nota)

A afinidades eletivas dos princípios econômicos coseanos com o ideário de 68 decorrente a sua critica as organizações hierárquicas tem suas evidências magnificadas no tempo presente como decorrência de duas dinâmicas distintas, mas que convergem suas conseqüências e efeitos na criação de uma necessidade imperativa de implantação do ideário de 68 no âmbito organizacional.

A primeira dinâmica é manifesta no avanço da Nova Economia Institucional e da Análise Econômica do Direito fundado no reconhecimento da influência determinante das instituições (entendidas como as regras do jogo) para o desenvolvimento, em especial quando desenhadas tendo em vista reduzir os custos de transação não dos insumos, bens e serviços, mas também das idéias. A segunda dinâmica, como nos referimos acima. é associada com o desenvolvimento das tecnologias, a exemplo do Big data e do Blockchain os quais potencializam as tendências de redução dos custos de transação, o que implica a ampliação das condições de possibilidades das organizações horizontais, como defendiam os jovens de 68 nos seus slogans e berros nas assembléias, ruas e barricadas em Paris em 1968.

Enfim, nas comemorações do centenário de Maio de 68 é, preciso, afirmar e reafirmar na academia, que parte do legado de 68, no que se refere a critica intuitiva dos estudantes as organizações herárquicas, não só estar vivo, como tem grande influência no debate sobre as alternativas de organização para a realidade do tempo presente.

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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