ROBERTO SCHWARZ: De Crítico do Cinema à Crítica Cinematográfica (Ihering Guedes Alcoforado)

Ihering Guedes Alcoforado
2 min readOct 20, 2019

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Roberto Schwarz é da linhagem de críticos que “morde o nervo”, para usar uma expressão da sua lavra. Uma demonstração disso é seu ensaio O Cinema e os Fuzis, inserido no seu livro O Pai de Família e Outros Estudos.

O referido ensaio é articulado em dois planos distintos e que estão anunciados no título. Na primeira parte temos o “crítico do cinema”, já que faz uma reflexão sobre o cinema em si, enquanto uma arte que tem suas possibilidades e limitações, insinuando que as limitações artísticas da produção cinematográfica decorre da não exploração das possibilidades técnicas do cinema o que decorre da ausência de um “sentimento à altura do cinema”. E como portador desta carência inclui, inclusive, o que considera “grandes fitas cortantes, como Deus e o Diabo e vidas Secas”.

Nesta nota, me restrinjo ao Roberto Schwarz “critico do cinema” cuja reflexão sobre esta arte é articula é a partir de três conceitos: i) a “proximidade”, ii) “simpatia” (e emoções correlatas “identidade” e “compaixão”e, por fim a iii) “compreensão”.

Na reflexão de R Schwarz a proximidade é considerada uma possibilidades técnica do cinema, dado que se pode por meio do filme gerar implicações sobre o expectador, entre as quais destaca simpatia ( e emoções correlacionadas a exemplo identidade e compaixão), a qual é entendida como uma espécie de empatia com o personagem. Por fim, a compreensão envolve um deslocamento do personagem para a problemática na qual se insere os personagem.

A origem do problema para R Schwarz é que a proximidade com a realidade fora do nosso alcance proporcionada pelo cinema é uma construção técnica, de forma que quanto mais convincente, maior será o milagre técnico. Sua grande oferta é uma “intimidade sem risco” com a realidade, estabelecendo “um contínuo psicológico onde não há um contínuo real” que entre suas possíveis implicações destaca a geração da “simpatia”, da “identidade”, da “compaixão” pelos personagens, as quais convergem no bloqueio da compreensão da problemática e é, aí que vê os riscos.

Para R Schwarz, problema do cinema em si, tem muitas facetas. A simpatia “barra a compreensão pois cancela a natureza política do problema”. Com a identidade “perde-se a relação, desaparece o nexo … (com) … a constelação de forças[…]. A compaixão é estética e politicamente uma resposta anacrônica. De forma que para ele, “mesmo grandes fitas de intenção cortante, como Deus e o diabo e Vidas seca, têm falhas neste ponto — causando, me parece, uma ponta de mal-estar”.

Enfim, para Roberto Schwarz é “preciso encontrar sentimentos à altura do cinema, do estágio técnico que ele é sinal”, o que é um desafio tanto para críticos como para cineastas.

Ihering Guedes Alcoforado

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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