ROBERTO SCHWARZ: Uma Aproximação aos Conceitos de “Problema Avançado” e de “Desacato à Convenção” (Ihering Guedes Alcoforado)

A pretexto de apresentar o “quadro” do qual emergiu seus ensaios incluídos em A Lata de Lixo da História, RS nos lega uma figura do turbilhão porque passou o Brasil em meados dos anos 60s do século passado no Brasil

Ele nos chama atenção que na época aludida a temática do subdesenvolvimento marcou fundo a “autocompreensão do país”. Isto porque tomamos consciência que “os nossos múltiplos problemas “…. já não eram questões isoladas.” Ou seja, “as dificuldades ligavam-se por dentro, ou melhor, compunham um “problema avançado”, que cabia aos progressistas encarar em seu conjunto.”

O problema avançado que ele vislumbra, é qualificado como “cheio de desdobramentos políticos e estéticos” Entre estes, e talvez o mais relevante, destaca “o significado do atraso nacional” que se transformava no período, “ o qual adquiri “uma relevância nova, muito mais ampla que a anterior.” O atraso, arremata “ […] deixava de ser visto inocentemente, como um resquício de tempos remotos, que dizia respeito só aos brasileiros. Tornava-se parte funcional — além de significativa — da ordem mundial moderna, que progredia e se reproduzia através dele, e não levava a sua superação.”

Nesta nova representação, ele nos chama atenção que o atraso si recoloca em outro patamar, estabelecendo “ uma visão menos crédula, ou mais sarcástica e aguerrida do progresso” o que debita a uma uma fórmula corrente na época, tratava-se do desenvolvimento do subdesenvolvimento (Gunder Frank); ou seja, o subdesenvolvimento tinha o futuro pela frente e não seria coisa do passado“. Enfim, ”um desenvolvimento que, salvo viravolta de fundo, era e continuaria sendo sub.”

A saída insinuada está no “desacato à convenção”, o que no seu entendimento deu-se apenas no plano das artes, deixando implícito para os progressista, o que eu torno explícito por meio da a seguinte sugestão:i) atualizar o “problema avançado” para o tempo presente e, ii) estender o “desacato à convenção” além das artes de forma a alcançar a própria estética tal como posto por Ranciére, isto é, e enquanto a partilha do sensível; mas também desacatar nossas instituições, a exemplo do instituto da propriedade.