POLÍTICA ECONÔMICA E AS RELAÇÕES DE PODER: As Crises das Teorias Econômicas e os Pseudos Consensos Contingentes

Ihering Guedes Alcoforado
3 min readMay 5, 2021

--

IHERING GUEDES ALCOFORADO

O processo de mudança econômica leva a crises e a um desgaste epistemológico que evidencia as limitações do paradigma dominante e das alternativas tradicionais, o que debilita a força dos seus argumentos que ancoram o status quo, tanto teórico como aplicado, criando as condições para a transformação das normas e protocolos de políticas econômicas por meio de pseudo consenso contingentes.[ALESINA, ARAGNA & TREBBI, 2006]

O problema é que as transformações são diferida ao longo do tempo por meio de uma resiliência perversa. O paradigma dominante e seu seus opositores clássicos sobrevivem por meio de uma resiliência que demanda recursos e tempos para ajuste “faz de conta’ a nova realidade, por meio da configuração de pseudos consensos contingentes nos quais se assenta a política econômica. A resiliência é efetiva por meio de mudança incrementais e marginais, de forma a assegurar sobrevida as idéias zumbis que constituem seu núcleo duro [1], as quais sobrevivem em função das suas relações de poder e, não mais da aderência dos seus axiomas ao novo cenário, ou, da sua capacidade explicativa ou preditiva. [2] [STIGLER, 1982; QUIGGIN, 2010; KORINEK, 2015].

Enfim, como no campo econômico nenhum paradigma domina plenamente, já que se observa a competição entre axiomas e interpretações do mundo antagônicas que se relacionam por meio de um diálogo de surdos em decorrência dos seus elementos ideológicos inatos; os pseudos consensos contingentes nos quais se assentam a política econômica decorre mais das relações de poder do que da capacidade explicativa e preditiva da teoria manejada que legitima a intervenção com uma justificativa racional-técnica. l

A conclusão provisória, portanto, é que a política econômica expressa as relações de poder, e, não as relações econômicas do tempo presente, o que pode ser uma possível justificativa para as crises econômicas recorrentes.

NOTAS

[1] A compreensão de A. Korinek (2015) é emblemática desta postura, eis suas palavras: “Although the dynamic stochastic general equilibrium -DSGE approach has led to great progress in some areas, it has also created biases and blind spots in the profession that hold back our understanding and our ability to govern the macroeconomy. There is great scope for progress in macroeconomics by judiciously pushing the boundaries of some of the methodological restrictions imposed by the DSGE approach.” [KORINEK, 2015:5]

[2]Vale ressaltar que para John Quiggin as idéias zumbis não se restringem as associadas ao mainstream, já que também se estende a algumas alternativas “A simple return to traditional Keynesian economics and the politics of the welfare state will not be sufficient. It is necessary to develop both theories and policies that respond to the realities of the twenty-first century economy.” E, arremata apontando seu alvo: “It is clear that there is something badly wrong with the state of economics. A massive financial crisis developed under the eyes of the economics profession, and yet most failed to see anything wrong. Even after the crisis, there has been no proper reassessment. […] The ideas that caused the crisis and were, at least briefly, laid to rest by it are already reviving and clawing their way through up the soft earth. If we do not kill these zombie ideas once and for all, they will do even more damage next time […] ”[QUIGGIN, 2010:4]

BIBLIOGRAFIA

ALESINA, A., ARDAGNA, S. & TREBBI, F. 2006. Who Adjusts and When? On the Political Economy of Reforms. NBER Working Paper, núm. 12049. Washington: National Bureau of Economic Research (NBER)

KORINEK, A. 2015. Matching the Moment, But Missing the Point? Institute for New Economic thinking (inet). https://bit.ly/3h46MUL

QUIGGINN, J. (2010). Zombie Economics: How Dead Ideas Still Walk Among Us. Princeton: Princeton University Press

STIGLER, G. 1982. The Process and Progress in Economics. Conferencia no recebimento do Premio Nobel. http://www.journals.uchicago.edu/ doi/abs/10.1086/261165.

--

--

Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

No responses yet