PARASITE: Crítica Social Como Entretenimento (Ihering Guedes Alcoforado)
O filme Parasite (2019) de Bong Joon-ho, Palme d´Oro em Cannes (2019) alinha-se a uma nova tendência cinematográfica hibrida que borra os gênero, o que lhe permite mobilizar um conjunto de recursos técnicos e dramatúrgicos na abordagem da questão social do tempo presente nas sociedades “desenvolvidas”: a desigualdade social. O resultado é uma denúncia social como entretenimento.
A desigualdade social é introduzida a partir do cotidiano dos seus extremos manifesto nas imagens residencias e do meio urbano: favela vs. mansão de grife:
Desigualdade que expressa as formas extremas de inserção na economia moderna sul-coreana: de uma família sobrevive da montagem das caixas de papelão utilizadas na entrega de pizza e, do outro, uma familia que vive das rendas de um CEO de uma empresa high-tech.
Mas a família coreana de excluídos economicamente, não são do todo, por meio do que revela uma certa homogeneidade cultural que assegura mesmo aos excluídos o acesso a competência necessária a inclusão ainda que que contingente, dado que está vedado atravessar a linha de fronteira que separa os dois mundos. Dado que a família de coreanos incluídos economicamente e que se beneficiam das novas oportunidades criadas pela economia high-tech sul-coreana absorve os excluidos em atividades de formação dos seus filhos, ou seja, não se restringe as atividades domésticas, a exemplo do que acontece no Brasil. O grande detalhe no entanto é o “porão’ no qual sobrevive uma
ameaça possível de se manifestar a qualquer momento pondo tudo a perder, tanto dos incluidos como dos excluidos (incluidos de forma contigente) a qual é sutilmente simbolizada como o celular e a Coréia do Norte, cujos torpedos e misseis num apertar do dedo pode destruir tudo.
A narrativa é articulada a partir de uma sequencia de “clusters dramatúrgicos” cada um estruturado a partir de recursos de gênero cinematográficos distintos. O primeiro bloco tem um viés documental das condições habitacionais e de trabalho dos excluídos do processo de reprodução do capitalismo coreano, e no qual existe, ainda que acidentalmente uma possibilidade de inserção precária dada a qualificação igualmente precária dos excluídos, mas suficiente para alimentar uma frasa e detonar um devaneio familiar que se alimenta da ilusão de atravessar a fronteira entre as duas classes.
A magnificação desse devaneio constitui o segundo “cluster dramatúrgico”articulado em torno dos recursos da comédia, com algumas pitadas de suspense quando se estabelece uma relação com o porão literal (da mansão) e simbólico (Coréia do Norte).
O terceiro “cluster dramatúrgico” é articulado por meio dos recursos dos filmes de terror o qual expressa a emergência da loucura do porão que provoca a destruição da “fantasia” dos inseridos. A loucura emerge e volta logo em seguida a submergir, alterando apenas os agentes.
O resultado é positivo: uma crítica social como entretenimento, sem qualquer possibilidade de emancipação, nem sequer possibilidade de ultrapassar a linha.