PALAVRAS MÁGICAS: A Taxonomia de Pedro Nava + 1
“Onde estão nosso psicólogos e psicanalistas ? onde estão ? que ainda não passaram o pente fino nos neologismos criados por esses prestigiadores, para achar o valor profundo e a confissão representados pelo sentido adicionado às palavras que não vieram mas que surgiram, de repente, na força de sua carga só aparentemente arbitrária.”[NAVA, 1977:185]
Uma outra especie da taxonomia de Pedro Nava são as palavras mágicas: só som, sem sentido intrínsico e que abre o caminho das associações abstratas e dizem sem necessidades de frase. Cor liberada, não figurativa, intraduzíveis:
“Méier, Méier, Méier. Fui derretendo na boca, repassando a bala do vocábulo -meiermeiermeiermeier — até ficar só com seu travo acídulo, só com o seu som e deve varrer qualquer sentido intrínsico. Abrindo apenas o caminho das associações abstratas. As das palavras mágicas. As das que funcionam isoladas e dizem sem necessidade de frase. Pedra preciosa independendo de jóia e engaste. Cor liberada, não figurativa. As intraduzíveis — porque pássaro não é bird, que não é oiseau, que não tem nada com oiselle, coisa tão linda que parece inventada por Alphonsou para seus poema….” [NAVA, 1977:185]
São palavras imutáveis ainda que suscetíveis de encarnação, mas cujo sentido pode ser relevado, o que importa é a sonoridade das sílabas:
“Assim como intraduzíveis, as palavras são imutáveis, incapazes de evolução, apesar de susceptíveis de reencarnação como quando a finura de phthisica reaparece nova e mais esquálida em tísica. E quem ? precisa saber seu exato sentido, quando ouve as sílabas prodigiosas de petúnia, galáxia, calamare, gerúndio, paralaxe, fêmur e profeta. “ [NAVA, 1977:185]
Ou seja, soverte-se o significado, adquire potencial paralelo de cheiro, gosto, cor, um passo para a improvisação e para o neologismo:
“Na palavra mágica soverte-se o significado e suas consonâncias é que determinam o que ela faz nascer. Ela muda, perde seu sentido primitivo. Dele se esvazia. Adquire potencial paralelo de cheiro, gosto, cor. Daí é um passo para a improvisação, para o neologismo que vale quando é inventado por um mestre Guimarães Rosa, por um mestre Carlos Drummond de Andrade — experimentadores do verbo, claudbernads do fonema.” [NAVA, 1977:185]
Enfim, palavras que enquanto neologismo precisam ter seu valor profundo evidenciado:
Onde estão nosso psicólogos e psicanalistas ? onde estão ? que ainda não passaram o pente fino nos neologismos criados por esses prestigiadores, para achar o valor profundo e a confissão representados pelo sentido adicionado às palavras que não vieram mas que surgiram, de repente, na força de sua carga só aparentemente arbitrária.”[NAVA, 1977:185]
BIBLIOGRAFIA
NAVA, Pedro., Balão Cativo — Memórias 2. 2a. ed. Livraria José Olympio Editora. 1977