PALAVRAS CABALÍSTICAS: A Taxonomia de Pedro Nava
Pedro Nava foi pródigo na adjetivação das palavras, que, quando, apreendida no seu todo, pode ser considerada uma taxonomia. Nesta nota, me restrinjo as “palavras cabalísticas” destacando não só a origem dessas palavras, mas também o que justifica seu significado deslizante, mutante.
Com respeito a origem elas não tem enraizamento etimológico, pois são inventadas, seja por necessidade funcional, a exemplo deE.F.O.M (Estrada de Ferra Oeste de Minas) e, que segundo Pedro Nava “podia ser nome dum gênio, dum anão, dum elfo, dum silfo”. Mas, para ele o fenômeno se generalizou quando leu Efoeset
“[…] logo passado a designação de lugar fabuloso, fuga, nova ponta da rosa-dos-ventos com o Loeste inventada por Vinicius numa das suas elegias, como a Avatlântica (ave solta !) e o Jarleblon (coleante lagartão !)que Manuel Bandeira e eu descobrimos nas tabuletas indicadoras dos ônibus da Light e dos seus bondes.Inda há pouco dei para escutar Trebouças com seu ruído de porcelana quebrando num guarda-louça que despenca — lendo placa mostrando direção dum túnel“[NAVA,1977:108]
E, o memorialista não se esquiva em ir fundo a poetidade das “palavras cabalísticas e vai direto ao ponto:
“É. Às vezes duas palavras — ácidos, bases, sais — se precipitam noutro corpo, coisa isenta, amálgama diferentes como um filho ou cama-de-gato tirada por mão de fada. Ai ! candera sereu que tivesse achado o poliedro solunar, o gel mundominas e pulverulência licopódica milavós — caídos das mãos alquimistas de Carlos Drummond de Andrade. . Mas deixa de patacoada, Pedro ! Deixa esses luxos para quem pode e cuida de tuas descoberta do bairro. Do mundo. Como aquela saída pelos trilhos caminhos de efoeste… ”[NAVA,1977:109]
Dá seu recado, e volta para sua memória que avança nas asas de expressões poéticas.