O RELEASE E O “JABÁ” NA CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA: Uma Nota Propositiva - Ihering Guedes Alcoforado

Ihering Guedes Alcoforado
2 min readNov 14, 2021

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Nos útlimos dias tem aumentado meu incômodo com as críticas cinematográficas que não passam de edição de release embrulhado em “jabá”

A produção e distribuição de release é uma atividade das assesorias de imprensa e tem muitas finalidades: uma de natureza mais geral, outras mais específicas. Uma finalidade de natureza mais genérica é garantir espaço nos veículos de comunicação por meio da dita mídia espontânea. Uma de natureza mais específica é garantir que a informação anunciada seja veiculada de forma conveniente ao cliente, quando é embrulhada no dito “jabá”.

O embrulho de um release num “jabá” é na maioria das vezes fácil de ser detetado pois, muitos cliente da assesoria de imprensa só considera que o contrato foi cumprido se a matéria for laudatória, ressaltando os aspectos positivos reais e imaginários sistematizados no próprio release sem qualquer referência aos aspectos negativos, sempre tendo em vista induzir o leitor a consumir o objeto, no caso o filme.

Com a precarização das relações de trabalho da crítica cinematográfica profissional cada vez mais exercida fora dos jornais e revistas, os críticos profissionais são cada vez mais vulneráveis ao “dando que se recebe” das assesorias de imprensa.

E, assim, com a difusão das novas tecnologia em vez de aumentar a autonomia do crítico profissional, o que se observa lendo as críticas de cinema é uma redução sua autonomia e a supressão do espirito crítico que empresta o nome a prpria atividade. E, essa tendência se manifesta no proprio crítico amador, dado que a partir do momento que tenha uma audiência possível de ser transformada em clientela, passa a ser assediado pelas benesses dos realese embrulhado no “jabá”.

Essa precarização das condições de trabalho dos críticos cinematográficos faz com a perda se dissemine por todo o “cluster” cinematográfico. O crítico perde por ser obirgado a se colocar a serviço das assesorias de imprensa. O cinéfilo perde por ser obrigado a ler críticas que não passam de release editado, cujo único objetivo a fazê-lo assitir o filme. O cineasta perde sua fonte de críticas categorizadas que apontam suas falhas e como superá-las. Perde o cinema brasileiro por estimular a criação dos gênios imaginários que produzem filmes inexpressivos para o público.

Em função disso, imagino que uma solução para esse problema pode ser intentada pela ANCINE por meio da criação de bolsas bianual para críticos profissionais de cinema que assegure uma remuneração decente aos selecionados, reduzindo a vulneralidade (na verdade uma necessidade de sobrevivência de muitos) dos críticos aos release embrulhado em jabá. Em paralelo, pode-se criar uma comissão que examinará todas as críticas publicadas, de forma a não renovar a bolsa dos críticos que continuem a revelar nas suas críticas a parcialidade induzida pelos release embrulhadas no jabá.

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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