O MEDO DEVORA A ALMA(Angst Essen Seele Auf, RW Fassbinder-1974)
O Ciclo Rainer Werner Fassbinder, promovido pelo Cinematografo Cine Cineasta de Salvador-Ba exibiu na 4a. feira 16/10/2019 no Cine UFBA o filme O MEDO DEVORA A ALMA(Angst Essen Seele Auf, RW Fassbinder-1974) o qual da segregadoras e discriminadoras que atravessam a sociedade alemã em meados dos 70s, mas cuja atualidade ultrapassa as fronteiras da Alemanha e se esparrama por toda a Europa.
A narrativa do filme é articulada nas margens da sociedade alemã, uma marca da cinematrografia de Fassbinder, e, tem como eixo e pano de fundo um melodrama, envolvendo uma viúva solitária, a senhora da limpeza e, um migrante argelino, cujos desdobramentos ata os vários registros descriminatórios na família, nos vizinhos, nas relações mercantis e nos colegas de trabalhos.
Ao longo da narrativa, a discriminação é seccionada horizontalmente (intra etnica)e verticalmente (inter etnica). No primeiro caso, o da discriminação intra-étnica, o critério destacado é o etário, o qual é evidenciado por meio da descriminação etária intra familiar da senhora da limpeza, a despeito de sua inserção em uma tipica família alemã (uma filha e dois filhos) dos estratos inferiores da sociedade, o que resulta não só na sua solidão, mas também no impedimento de sua saída da mesma, estabelecendo-a como uma imposição imperativa da velhice. A leitura ética maniqueista é expressa na fala de Ali: Você não é velha, você é boa, o que não impede de seus colegas de trabalhos usarem o critério etário para descriminá-la.
No segundo caso, o da discriminação inter-étnica a discriminação é generalizada por meio da figura do estrangeiro, seja um negro africano, seja uma jovem nórdica, diferenciando-se na conotação do objeto da discriminação, no caso Ali vinculado a sujeira e a promiscuidade capar de sujar não só a reputação de quem se envolve com eles, a exemplo da senhora da limpeza, mas também o ambiente coletivo no qual circula.
A conduta discriminatória é manifesta não só no diálogos entre os discriminadores, mas principalmente por meio da interdição do dialogo, a exemplo do merceeiro que usou a justificativa linguística para expressar sua discriminação por meio da não venda, mas cujo saliência foi obtida por meio da absoluta supressão do dialogo manifesto na paralisia e no silencio dos presumidos interlocutores, o que foi evidenciado, tanto no seio familiar, quando a senhora da limpeza comunicou seu casamento a família, como no restaurante ao ar livre,nas imagens da paralisia dos garçons e no desespero provocado na senhora da limpeza: as imagens mais forte do filme.
O ponto de fuga, a saída de situação apontada é institucional. Uma é expresso no formalismo legal do contrato que assegura os direitos individuais, evidenciado na conduta legalista do senhorio e dos policiais. A outra é mercado, seja de mercadorias, como no caso do merceeiro, seja de favores, expresso na reaproximação do filho e das vizinhas. Ambas têm em comum conter a inclinação discriminatória intra e inter étnica que atravessa a Alemanha nos anos setenta, mas que mutatis mutandi, se aplica a realidade contemporânea das sociedades ancorado na tradição judaica cristã.
IHERING GUEDES ALCOFORADO