O JOELHO DE CLAIRE (Le Genou de Claire,1970): Fetiche e Desejo do Nada

Ihering Guedes Alcoforado
3 min readSep 21, 2022

IHERING GUEDES ALCOFORADO

“Digamos que ela me perturba. Ela perturba meu personagem e um pouco de mim….Ela me perturba fisicamente… provoca em mim um desejo certo, mas sem objetivo. Puro desejo. Desejo de nada. Mas sentir esse desejo me incomoda” [JERÔNIMO

As duas partes do filme de Eric Rhomer O Joelho de Claire pode ser apreendido por diferentes ângulos. Aqui optamos por considerá-las dois momentos da pesquisa de Aurora realizada por meio do seu amigo o diplomata Jerenome, que se colocou na posição de cobaia na identificação do lógica que articula a relação pedófila consentida.

Na primeira parte, a pesquisa segue uma trajetória previsível, Jernome estabelece, como uma brincadeira, um relacionamento com Laura, uma adolescente de 16 anos por meio do que se evidencia nos monologos de Laura, os mecanismos que subjzar a inclinação de jovens estabelecer relacionamentos com homens que tem a idade de ser seu pai, o que não é raro nos filmes de Eric Rohmer.

Mas, na segunda parte do filme, a partir de quando entra no cenário Claire, o imprevisto entra em cena, uma marca dos filme de Rohmer, Jeronome comunica a Aurora sua amiga que levou o papel de cobaia a sério, colocando-se na pele do personagem do seu romance ao julgar-se “capaz de sentir algo que não é bem o que sinto” por Claire, o que no entendimento dele, perturbou não só o personagem, mas também a êle próprio.

Esse fato novo é um desejo cujo pólo magnético é o joelho de Claire, um fetiche : “Nesse ponto preciso, se pudesse seguir esse desejo, ignorando o resto, teria posto a mão”. Esse desejo era novo para ele, pois, até então, o desejo vinha da posse.

Esse desejo perturbou-o por sua falta objetivo e, por isso, mais forte. Um desejo puro, desejo de nada, mas sentido intensamente. Um desejo que o leva a achar-se com um direito sobre Claire: um direito que nasce da força do seu desejo. Mas reconhece uma interdição ao exercício desse direito e a consequente satisfação desse desejo: uma carícia deve ser consentida.

Finalmente, quando concretiza seu desejo: acariciar o joelho de Claire chorando ao saber da traição do namorado. O gesto que ele julgou de desejo, ela tomou por consolação. Mas, foi o suficiente para que ele sentisse uma “espécie de paz”, mesclado ao ao receio de não ter “controle sobre aquele instante.”

Esse prazer foi potencializado por estar associado por êle a uma boa ação (libertar Claire definitivamente daquele rapaz), o que o leva a concluir que “não poderia sentir prazer tão perfeito não fosse a idéia dessa boa ação.

Resumindo: Essa parte do filme, abre uma janela para observações das manifestações do desejo do nada que se expressa na fetichização das coisas ou partes do corpo muito comum na nossa era na qual predomina os desejos difusos.

--

--

Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.