O CASAMENTO NO CINEMA — Ihering Guedes Alcoforado

Ihering Guedes Alcoforado
2 min readMar 8, 2022

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O casamento e em especial o processo de separação são temas recorrentes no cinema, com alguns marcos salientes: i) Cenas de um casamento(1974) com roteiro e direção de Ingmar Bergman estrelado por Erland Josephon (Johan) e Liv Ullmann (Marianne), ii) Krame vs. Kramer (1979) com roteiro e direção de Robert Benton e estrelado por Dustin Hoffman (Ted Kramer) e Meryl Streep (Joanna Kramer) e iii) a Separação (2011) com direção e roteiro de Asghar Farhadi com a participação de Peyman Moaadi (Nader) e Leila Hatami (Simin)são exemplo emblemático do que melhor se produziu no cinema sobre o casamento e a separação, respectivamente. História de um Matrimônio dirigido por Noah Baumbach e estrelado por com Scarlett Johansson e Adam Driver alinha-se a essa tradição.

Um fato determinante na configuração do filme é que ele é baseado na experiência pessoal de Noah Baumbach, diretor e roteirista do filme, o que muito provavelmente influiu no registro com grande sutileza a união e separação de um casal com final feliz, sem se esquivar de tratar das questões mais espinhosas a exemplo do ressentimento, decorrente do fato dos personagem atuarem profissionalmente no campo performatico: um diretor de teatro e uma atriz, cujas pretensões de direção eram abortadas pelo companheiro.

O cenário profissional existencial no qual se ancora o comovente processo de formação e separação do casal é, portanto, escorado num sutil mix de emoções que envolve a complexa relação de admiração e inveja que alimenta uma relação de colaboração e competição profissional, o que fica evidenciadas ao longo do filme como as causas da formação e da dissolução da relação profisional/marital, o que não acontece com a relação pessoal.

Por fim, o equilibrio da narrativa que evita a formula mocinha vs. bandido é pontuado por atos que só podem ser devidamente apreendido no âmbito da pragmática, no sentido dado ao termo por John Searle que nisto se alinha a tradição da filosofia pragmática. Um desses atos é manifesto na abertura, quando Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver) abrem o filme dizendo como cada um deles enxerga o outro, evidenciando que a a maneira como cada um se percebe não necessariamente coincide como a visão do outro, por meio do que se infiltra o virus que irá destruir o casamento. O outro é o ato expresso no final, quando o filho lê uma carta da mãe, junto com o pai, na qual ela faz um inventário da sua representação do ex-companheiro, por meio do qual se evidencia a permanência das condições para uma amizade e companherismo pós-casamento, o que é ilustrado na cena final quando Charlie fica com o filho num dia de gauarda de Nicole e Nicole ata o laço do cadasso do sapato de Charlie.

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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