NA SOMBRA DE STALIN (Mr. Jones) Ihering Guedes Alcoforado
Na Sombra de Stalin (Mr. Jones) de Agnieszka Holland, uma discipula de Andrej Wajda é um daquele filmes que nos põe diante de algumas “verdades’ incômodas e, por isso mesmo, necessárias ser dita e redita.
A primeira verdade incômoda é a que coloca em oposição a ética do jornalismo, decorrente do que a sociedade espera do profissional e a moral dos jornalistas, vinculado aos auto-padrões de conduta assumidos pelo jornalista na realização do seu trabalho, os quais operam como padrões normativos balho do jornalista. Essas duas referências normativas não são necessariamente compatíveis e que, paradoxalmente, o sucesso do jornalista está associado a moral contigente do jornalista e, e não ao cumprimento da ética do jornalismo. No filme, o jovem jornalista gaulês Gareth Jones (James Norton) representa o profissional que busca compatibilizar a ética do jornalism com a sua moral enquanto jornalista; enquanto Walter Duranty (Peter Sarsgaard) ganhador do Pulitzer de 1947 é emblemático do profissional que desconsidera a ética do jornalismo e opera a partir de um referencial ético contingente, elaborado de forma a refletir as conveniências do momento.
A segunda verdade incômoda é de natureza política e envolve a construção e ou rememoração do fato político. Tanto na mídia como no cinema, tendo em conta os esforços de rememorar os holocaustos, a vida de um judeu, tem um valor simbólico muito superior a de ucraniano ou armênio, o que se pode debitar ao viés político. E isto fica evidenciado ao tomarmos consciência da magnitude do Holodomor, a Grande Fome de Stálin, que oferece o pano de fundo ao filme supra. Consciência da pouca atenção dado pelo cinema não apenas ao fato, mas principalmente a versão que foi difundida na época.
A terceira verdade que emana do Filme é que uma ficção baseada em fatos históricos, evidencia que o registro ficcional de um filme nos põe diante do “real” em sua complexidade inacessível, a exemplo do que acontece no filme na Sombra de Stalin, enquanto o documentário, quando muito no apresenta a “realidade” facutal.
Enfim, é um filme que atende múltiplas necessidades, indo de um bom entretenimento, a um bom motivo para reflexão ética e moral do mundo contemporâneo.