MACHADO DE ASSIS: Do Pós-Colonialismo Crítico à Descolonização Cultural
IHERING GUEDES ALCOFORADO
Nesta nota revisito um fragmento da obra de Machado de Assis para evidenciá-lo não só como um crítico cultural pós-colonial, mas como um policymaker engajado no processo de descolonização cultural.
Com este propósito me detenho na sua reflexão publicada na Marmota entre 9 e 23 de abril de 1858, as quais foram inseridas nas suas Obras Completas organizada por Afrânio Coutinho para a Ed. José Aguillar com o sugestivo título: O Passado, o Presente e o Futuro da Literatura Brasileira.
Na frase de abertura Machado de Assis se volta para “os vultos luminosos da nossa história de ontem”, os quais são posicionados nas dobraduras da literatura com a política. Esses “vultos luminosos” são qualificados como “os Cristos da regeneração de um povo, cuja missão era a união do desinteresse, do patriotismo e das virtudes democráticas” e considerados como “a manifestação eloquente de uma raça heroica que lutava contra a indiferença da época, sob o peso de medidas despóticas de um governo absoluto e bárbaro.”
Para Machado de Assis, o representante emblemática desses “vultos luminosos da nossa história de ontem” é Jose de Bonifácio Andrade tanto na esfera política, o que não é nenhuma novidade, mas também na literatura, o que surpreende aqueles que, tanto no passado, como no presente “faltam-lhe os conhecimentos, a educação básica para compreendê-las”. O José Bonifácio de Machado de Assis “foi a reunião dos dois grandes princípios, pelos quais sacrifica-se aquela geração: a literatura e a política.
Machado de Assis expressa, portanto, uma avaliação extremamente positiva da política e poética pós-colonial de José Bonifácio a quem a história credita o desenho institucional do Império, mas que Machado de Assis agrega a sensibilidade do poeta das Odes, que com seu virtuosismo evidenciou as possibilidades em latência da poesia como a forma “mais conveniente e perfeitamente acomodada as expansões espontâneas de um país novo.
Ou seja, o José Bonifácio de Andrade de Machado de Assis é um duplo revolucionário: “Uma revolução literária e politica fazia-se necessária. O país não podia continuar a viver debaixo daquela dupla escravidão que o podia aniquilar”.
Enfim, a avaliação positiva “os vultos luminosos da nossa história de ontem” expressa de forma emblemática na agenda de José Bonifácio com a qual não só se identifica, como a toma como referência para sua críticas a geração da sua época e, também para suas propostas de políticas culturais, por meio do que revela seu compromisso com o processo de descolonização para o qual no seu entendimento é necessário tanto uma revolução política como uma “revolução intelectual”. Compromisso ausente na intelectualidade e a política do seu tempo, o que se reflete na sua alienação política e mediocridade literária. Aspectos que serão objeto da próxima nota, na qual ressalto o compromisso de Machado de Assis com a descolonização cultural, o que o coloca numa posição de policymaker cultural.
REFERÊNCIA
MACHADO DE ASSIS, O Passado, o presente e o futuro da literatura IN Obr as Completas III (Poesia, Crônica, Crítica Miescelânia e Epistolario) Rio de Janeiro, Ed. José Aguillar, 1959. pp. 799–811