LE BRIO (O Orgulho), de Yvan Attal (2017) Ihering Guedes Alcoforado
Uma exposição das contradições e ambiguidades da sociedade francesa (parisiense) contemporânea metaforizada na retórica é o que nos oferece o filme LE BRIO (O Orgulho) de Yvan Attal (2017) com Camelia Jordana(Neïla) e Pierre Mazart (Daniel Auteuil). Uma linguagem que une os opostos: a estudante de direito, filha de uma mãe solteira magrebina de fé muçulmana, e seu mundo da vida suburbano, ao professor da Sobornne racista e elitista que destila todo seu racismo e reacionarismo no primeiro dia de aula quando desqualifica à jovem.
A atitude extrapolou a razoabilidade dentro de uma escola conservadora, vulnerabilizando o professor diante da instituição, que o obrigou a ser “generoso” com a agredida, preparando-a em aulas particulares para um importante concurso de retórica, de forma que a performance da estudante agredida no concurso passa a ser a tabua de salvação do professor, dado o interesse da instituição de sinalizar para a sociedade francesa a sintonia com a nova realidade de uma instituição republicana e elitista num contexto multicultural.
A feliz escolha da retórica como o eixo narrativo do filme permite evidenciar as barreiras e possibilidade de integração por meio da apropriação e exercício dos códigos linguísticos e de postura tanto na esfera pública enquanto uma futura advogada, como na esfera privada associadas a seus amigos de infância posicionados, como ela, a margem da sociedade francesa.
O coroamento da narrativa integracionista é a consistente peça de retórica do discurso final de Neila, no qual os princípios dessa arte da manipulação e persuassão são aplicados no momento de avaliação final do professor, deixando no ar uma indefinição se os ouvintes que estão avaliando a conduta de Pierre Mazart estão interessado no conteúdo racista e preconceituosa do colega denunciado pela jovem, o que já é do conhecimento de todos, ou na forma como eles estão sendo expressos por meio de uma retórica na qual fica evidenciado o efeito das aulas do professor de retórica, o que é fundamental para a reputação de um Escola que encarna, para o público, sua expertise nesse âmbito.
Ambiguidade essa nas cenas finais do filme, as quais do ponto de vista do professor, tanto podem ser apreendidas pelas perspectiva do desapontamento das acusações, como da satisfação pelo resultado do seu trabalho.