LA PASSION D´AUGUSTINE: As Múltiplas Inflexões do Mundo da Vida e do Sistema no Quebec dos Anos Sessenta (Ihering Guedes Alcoforado)
Em A PAIXÃO DE AUGUSTINE (La passion d´Augustine), (2015), a diretora Léa Pool narra as relações institucionais e pessoais, no interior do Convento da Madre Augustine (Simone Beaulieu), uma motivada professora de música, dirigente de uma escola católica no Quebec rural para meninas nos anos 60, por meio do que a diretora traz a tona uma série de inflexões na sociedade desta parte do Canadá.
O filme põe em tela os impactos no cotidiano de um pequeno convento no Quebec rural, decorrentes das transformações nos anos 60. De um lado, evidencia as angustias e inseguranças geradas pelas mudanças a que emanam do Vaticano II, por meio do que evidencia as dificuldades de transformações nos hábitos e rotinas, não só do convento, mas da própria Igreja. Do outro lado, mostra que os impactos das transformações da Igreja são potencializados pela transformações no Estado e na Sociedade.
As transformações no Estado no Quebec são situadas de forma implícita no âmbito do que ficou conhecido como a Révolution Tranquille). Um período de intensa mudança no sistema estatal que visava a secularização do governo e a criação do estado de bem estar (état-providence), o que envolveu iniciativas de ter o controle direto nos campos da saúde e educação, até então controlada pela Igreja Católica, por meio da implantação das escolas públicas. Enquanto que as transformações na sociedade são conotadas por meio Alice (Lysandre Menard) sobrinha da Madre Superiora originária de uma sociedade familiar em decomposição, mas com formação musical.
Em função do exposto acima, o eixo central da narrativa transformadora é feito em múltiplos recortes, entre os quais destaco o da personagem Alice (Lysandre Menard) sobrinha da Madre Augustine por meio da qual é feita a transição que integra o mundo da vida e o sistema. O “poncho” de Alice que encanta as colegas é um signo do movimento hippie que teve grande visibilidade e foi associado _às transformações nos costumes na década de sessenta; ao tempo em que o encantamento gerado pelos seus improvisos jazzístico com base erudita aponta a nova demanda musical do novo mundo que a aguarda, tendo na retaguarda sua tia, a ex-freira, e nova professora de música. Enfim, a mensagem que vem do Quebec é que as mudanças consistentes são assentadas na tradição.