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UM JOGO BRUTAL(1983) (Un Jeu Brutal) by Jean-Claude Brisseau
UN JEU BRUTAL (Um Jogo Brutal) de JC Brisseau põe na tela uma alegoria das trajetórias postas a emancipaçao da humanidade: i) a poética encarnadas por Isabelle (Emmanuel Debever) eii) a cientifica adotada por seu pai o Prof.Tessier (Bruno Cremer) que segue os rastros da mãe que, no leito da morte afirma com toda a tranquilidade que a vida e a morte são meras situações particulares.
Isabelle uma jovem paraplégica abandonada pelos pais num convento parte do fundo do poço na direção do topo encarna a trajetória poética. Essas são suas primeiras palavras:
“Olho para a praça e as pessoas. Onde poderia colocar uma bomba para matar o máximo possível ? Eu pensaria primeiro no mercado quando está mais movimentado. Corpos destroçados, mulheres e crianças gritando. Esgotos explodindo, lama, corpos escorrendo sangue por toda parte. Em seguida, explodiria minha segunda bomba… Uma carnificina.”
É neste estado mental que ela descobre a sensualidade no seu corpo, até então embotado, e, inicia um processo que potencializado pela poesia de Charles Baudelaire que a leva literalmente ao topo e, as ambiguidades das emoções humanas.
Prof. Tessier, o pai de Isabelle encarna a a trajetória cientifica. Esse personagem parte do topo na direção do fundo do poço. Ele é uma celebridade do mundo técnico cientifico convencido de ser portador de uma missão divina: trazer o segredo da vida ao mundo, a partir do que avança sobre tudo e todos orientado por uma ética extraída da cadeia alimentar: um comendo o outro com uma necessidade natural da vital, onde a injustiça é uma palavra sem significado. De forma que tudo que possa se por no caminho desse avanço desse ser eliminado, o que justifica o assassinato das crianças: “Ninguém é inocentes, lembre-se. Todos são elos da cadeia. O mundo está cheio de sinais. Invisíveis para os ignorantes, os incompetentes, os idiotas. Há indícios claros para quem sabe interpretá-los. eu aprendi a interpretá-los no silêncio de meu laboratório. eu sei, por isso sou o maior.”
Enfim, o Prof. Tessier defende a libertação das ilusões que nos aprisiona, de forma a permitir que o mundo apareça em todo seu esplendor, o que ele próprio não consegue, mas Isabelle consegue não pela ciência, mas por meio da poesia. Ironias do destino que aponta uma possível complementaridade das trajetórias.