FUTURE-SE: Mészáros (Conhecimento da Produção) vs. Habermas (Produção do Conhecimento) (Ihering Guedes Alcoforado)

Ihering Guedes Alcoforado
6 min readSep 28, 2019

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“One of the key functions of master narratives is tht they offer people a way of identifying that is assumed to be a normative experience. In this way, such storylines serve as a blueprint for all stories; they become the vehicle through which we comprehend not only the storeis of others, but crucially of ourselves as well. for ultimately, the power of master narratives derives from their internalisation. Wittingly or unwittingly, we become the stories we known, and the master narratives is reproduced. “ [ANDREWS, 2004,p. 1]

A luta política pode ser estabelecida em múltiplos planos, mas nas sociedades democráticas ela tende cada vez mais se dá no campo das narrativas, por meio das quais é possível induzir o sentido dos acontecimentos associando-lhe as causas e efeitos que tanto pode ter como não ter uma evidência empírica. Um exemplo emblemático deste procedimento se observa na ação concertada do CORPORATIVISMO, AUTÁRQUICO BUROCRÁTICO com relação ao FUTURE-SE, cuja narrativa se notabiliza pela desconsideração das evidências empíricas das causas e efeitos da atual crise por que passa a universidade pública. [BERINSKY, 2006; WALKER, 2012]

Em função do exposto acima, nesta nota faço uma aproximação as narrativas estruturadas em torno do FUTURE-SE, a partir dos insights de Mészáros e Lucáks, de um lado, e Habermas do outro

Os insights de Mészáros estão presente na narrativa dos “contra”, a qual é vertebrada a partir de um conjunto de parâmetros a históricos e essencialistas.

O primeiro é de natureza ontológica: o sujeito envolvido no cotidiano universitário é considerado um “ser social” abstrato e genérico imaginado por Lucáks. A concepção da educação deste ser social tem como telos sua emancipação o que depende do desenvolvimento de uma razão critica do tempo histórico e da sociedade. Ao tomar o “ser social” em vez do “servidor público” não precisa das evidências empíricas que sinalizam problemas não só conjunturais, mas principalmente estruturais, a exemplo do corporativismo, autárquico, burocrático

A segunda premissa é uma visão “estruturalista” do capitalismo e não da universidade, consideram que a origem dos problemas da universidade decorre da dinâmica do capitalismo que em sua crise, sempre terminal determina e bloqueia o processo de democratização do saber (a preocupação do conhecimento, mas com o conhecimento da produção por meio do qual se avança na direção da emancipação humana que tem como referência o “ser social”.

Na narrativa dos “contra” o problema não está em baixo (na institucionalização e organização universitária) mas em cima (no capitalismo ) que em crise estrutural busca uma saída para sua crise de reprodução na comoditização do ensino, a qual impõe uma logica de “produção do conhecimento” parametrizada pela produtividade e eficiência na busca de lucro, em detrimento do “conhecimento da produção”, a via para a emancipação do ser social.

Esta relação dicotômica entre o conhecimento e sua produção é estruturante da narrativa dos “contra”, que por meio das suas corporações resistem a uma universidade focada na “produção do conhecimento”, o que implica o envolvimento com questões prática e operacionais do cotidiano de uma universidade, daí a narrativa dos “contra” ser estruturada sem consideração da produção acadêmica que toma a instituição e a organização das universidade como objeto de pesquisa, o que implicaria por em cena o “servidor público”.

Ou seja, uma universidade focada na “produção do conhecimento” não se encaixa na narrativa histórica e essencialista dos “contra”, fato que o fica bem evidenciada na reflexão em curso de Naomar Almeida-Filho que, quando mergulha na sua rica experiência como gestor e empreendedor universitário e traz a tona, com muito pertinência problemas estruturais do cotidiano, logo se depara com o que nomeou de “tabus de esquerda”

Enfim, o problema da narrativa dos “contra” é que ela é mais uma manifestação setorial e especifica do que já se nomeou de “ideias fora do lugar”, pois o mecanismo de desqualificação da visão instrumental implicita no FUTURE-SE adota um framework extraido das ditas teorias da reprodução dos anos 1970s, a exemplo da de Louis Althusser que por meio do conceito de “aparelhos ideológico do estado” ressalta o duplo caracter das escolas, de um lado formando a força de trabalho e do outro, difundindo a ideologia como mecanismo de coaptação, desconsiderando a falta de aderência de tal frame para o caso brasileiro, dado que as escolas e especial as universidades difunde a ideologia alternativa e, se constitui como um dos mais importantes polos de resistência ao sistema. [REZENDE & OSTERMANN, 2019]

O recurso as “ideias fora do lugar” também se evidencia quando, a partir de Habermas, um proponente da luta pela emancipação, mas sensível a priorização da luta pela sobrevivência, , posicionamos o nosso estágio de desenvolvimento nacional, no primeiro da tipologia de Habermas dos três estágios da luta política pela i) sobrevivência, ii) libertação e iii) consciência.

A narrativa dos “contra” ao focar sua luta na emancipação (etapa seguinte da luta pela sobrevivência) desconsideram que dezenas de milhões de brasileiros enfrentam uma luta pela sobrevivência numa situação extremamente adversa tanto a nível individual como sistêmica. No plano individual porque a maior parte dos nossos milhões de desempregados são pouco qualificado para desenvolver e operar os novos padrões tecnológicos e os novos arranjos organizacionais que potencializam as nossas possibilidades em latência. O que se repete no plano sistêmico, dado que a maioria das nossas empresas não estão capacitadas do ponto de vista técnico e gerencial para explorar as janelas de oportunidades criadas pelo desenvolvimento e acessibilidades das novas tecnologias.

Estas travas ao nosso desenvolvimento só serão superadas por meio de uma universidade que priorize a PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO assentada na RACIONALIDADE TÉCNICA que, segundo Habermas é legitima na etapa da luta pela sobrevivência., e assim nos alinharmos a luta de dezenas de milhões de brasileiros e empresas nacionais na sua luta pela sobrevivência.

Resumindo: A narrativa dos ”contra” não tem como premissa a luta pela sobrevivência, mas uma luta pela emancipação (uma fusão dos estágios da luta pela libertação e pela consciência) que é operada por meio do CONHECIMENTO DA PRODUÇÃO. De forma que estamos diante mais uma vez de “ideias fora do lugar”, e, o grave é que a narrativa dos “contra” e sua emancipação do ser social, deverá balizar as decisões de muitas universidades, retardando o alinhamento da Universidade com a sociedade e a economia brasileira, mantendo-a voltada para atender os interesses das suas corporações. Ou seja, a narrativa dos “contra” está focada na luta pela sobrevivência do CORPORATIVISMO, AUTÁRQUICO, BUROCRÁTICO.

HERMAN, David, Manfred Jahn, Marie-Laure Ryan., Routledge Encyclopedia of Narrative Theory. Routledge, 2005

BIBLIOGRAFIA

ANDREWS, Molly., Counter-narratives and the power to oppose. IN BANBERG, Michael & ANDREWS, Molly., (eds.) Considering Counter-narratives (Narrating, resisting, making sense. Amsterdam: Jon Benjamin Publising Cia.2004 pp. 1–6

BERINKSY, Adam J & Donald R Kinder. Making Sense of Issues through Media Frame: Understanding the Kosovo Crisis IN The Journal of Politics, 2006, v. 6, n. 3, pp. 640–656

HABERMAS, Jüngen, Conhecimento e Interesse. Rio de Janeiro: Ed Guanabara. 1987

JONES, Michael et al Introducing the Narrative Policy Framework IN JONES, Michael D., Elizabeth A. Shanahan, Mark K. McBeth (eds.) The Science of Stories: Applications of the Narrative Policy Framework in Public Policy Analysis. Palgrave Macmillan US, 2014. pp. 1–27

KAY, Adrian., Structured policy narratives IN The Dynamics of Public Policy: Theory And Evidence (New Horizons in Public Policy). Edward Elgar, 2006 pp. 59–76

LUCÁKS, Gyorgy. Para uma ontologia do ser social . 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2018

MÉSZÁROS, Ístvan. A produção de riqueza e a riqueza da produção. In: ______. Para além do capital : rumo a uma teoria da transição. São Paulo: oitempo, 2002. p. 605–633.

MÉSZÁROS, Ístvan. Educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2008.

Rezende, F., & Ostermann, F. (2019). Hegemonic and counter-hegemonic discourses in science education from the perspective of a post-critical[curriculum theory. Cultural Studies of Science Education. doi:10.1007/s11422–019–09945–8

STONE, Deborah., Policy Paradox: The Art of Political Decision Making, W. W. Norton & Company, 2011

Deborah Stone

The most accessible policy text available.

O FUTURE-SE estabelece um processo de construção de uma policita (policy making) e, como tal uma luta política que envolve valores e ideais que poderá levar a decisões paradoxais. [STONE,

WALKER, Mary Jean., Neuroscience. Self-Understanding and Narrative Truth. AJOB Neuroscience, 2012, v. 3, n. 4, pp. 63–74

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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