FILHOS DE ISTAMBUL-Ihering Guedes Alcoforado
Filhos de Istambul (Kagittan Hayatlar) de 2021 é dirigido por Can Ulkay com roteiro de Ercan Mehmed Erden e, é mais uma contribuição do Netflix que nos põe diante da realidade infantil turca marcada pela ausência da mãe, a exemplo de “Milagre da Cela 7” e o “Violino do Meu Pai”.
A primeira grata surpresa de Filhos de Istambu já se manifesta no enquadramento da problemática que conforma duas narrativas: uma manifesta nas imagens em movimento e, uma outra em latência só acessível de forma retrospectiva. O que é possível graças a ancoragem psicanalitica do trauma original que marca os “personagens” centrais: a ausência da mãe, dado que é esse trauma que fundamenta a construção dos referidos personagens.
O filme articula-se num registro aquém do adotados por outros que trataram da mesma problemática, a exemplo de “Pixote” de Héctor Babenco (1980), de “Saalam Bombay” de Mira Nair (1988) e de “Quem Quer Ser um Milionário” de Danny Boyle (2008). Isto porque, si a temática social é a mesma, o fio condutor da narrativa é bastante original, ao proporcionar duas narrativas: uma manifesta por meio das imagens em movimento ao longo do filme, e outra em latència e apenas percebida por meio de apreensão interpretativa, a partir das cenas finais
O resultado final é uma narrativa pontuada de lugares comuns, mas que graças a estruturação do roteiro com notável sensibilidade psicanalítica, proporciona ao espectador uma grata surpresa no final.