ECONOMIC POLICY & EPISTEMIC TOLERANCE: A Hayekeano Approach

Ihering Guedes Alcoforado
4 min readAug 28, 2020

--

IHERING GUEDES ALCOFORADO [Professor de Política e Planejamento do Departamento de Economia da UFBA]

A mais relevante contribuição de F. VON HAYEK (1945) ao campo da Política e Planejamento é a modelagem o problema do uso do conhecimento na sociedade, a partir da qual fundamenta sua crítica cognitiva ao planejamento central evidenciando a “impossibilidade” do seu êxito do planejamento e, por derivação das politicas governamentais.

Nesta nota, inspirado em Hayek, considero que o trabalho de policy making envolve a mobilização de múltiplos conhecimento os quais formam clusters a partir do binário cognitivo hayekeano: conhecimento codificado vs. conhecimento tácito e, com os quais opera no seu dia-a-dia tendo em vista integrar e operar com os conhecimentos gerado nestes cluster que se articulam tanto no universo do conhecimento tácito, como do codificado, configurando um problema de coordenação cognitiva (cognitive coordenation)[LORENZEN & FOSS, 2001]

Os clusters cognitivos localizados no universo do conhecimento codificado envolve os diversos de conhecimentos científicos, a exemplo da Economia, do Direito e se configura por meio da diversidade dos recortes (teoria do consumidor, organização industrial) e das teorias (neoclássica, neoinstitucional), entre outros no caso da Economia. O conhecimento gerado nestes clusters, antes de ser instrumentalizados, precisam ser integrados e passados pelo “filtro” dos múltiplos clusters de conhecimentos tácitos correlacionados e que se alojam no dito chão-de-fábrica” nas suas distintas expressões no executivo e no legislativo. O resultado desta ‘arquitetura’ é um problema espinhoso (wiked problem) inerente ao processo de construção das políticas: o problema da mobilização e utilização dos conhecimentos demandados ao longo do ciclo de vida das políticas governamentais.[1][LARSEN, 1980;DAVITER,2015; RITTEL & WEBBER, 1973; TYLER, 2013]

No enfrentamento deste problema é fundamental que o policy maker tenha uma uma tripla consciência: a) uma exógena e b) outra endógena e, a 3) terceira a integração das duas anteriores.

A “consciência exógena” se refere a natureza dual do contexto institucional no qual o policy maker , já que além das instituições ressaltadas pela abordagem do Direito e Economia (Law & Economics), temos outras tantas cujas “regras do jogo” são de natureza cognitiva e formada a partir de arranjos contingentes dos entendimentos dos problemas pelas distintas “comunidades cientificas” ( community science) e suas “culturas epistêmicas” (epistemic cultures)[CHARLES, A. et al., 2020; CETINA, 1999, 2007].

Enquanto que a “consciência endogéna” do policy maker se refere a sua própria “cultura politica” e da sua comunidade, onde se alojam suas atitudes não epistêmicas fundada nos seus valores morais que balizam suas atitudes epistêmicas e, em conseqüência suas relações com o contexto cognitivo mais amplo formado pelas “comunidades científicas” e dos seus conhecimento necessários a estruturação das suas políticas e intervenções.[COLOMBO et al, 2016; PYE, 1972; WILDAVSKY, 1987]

A terceira consciência gerada na confluência das duas anteriores, e consiste na consciência que enquanto um policy maker, ele não opera com problemas estruturados, mas com problemas não mal-estruturados, os ditos problema espinhoso (wicked problem) e, no cujo enfrentamento é imperativo que tenha consciência da necessidade, não ao recurso de uma racionalidade colaborativa (collaborative rationality), mas principalmente uma “tolerância epistêmica” (epistemic tolerance) na sua relação com os demais interlocutores.[RITTEL & WEBBER,1973; INNES & BOOHER, 2016; STRAßER et al, 2015]

Por fim, o desconhecimento dessa realidade, no meu entendimento, explica em boa parte os problemas de gestão e que se expressam de forma emblemática no Ministério Paulo Guedes.

NOTAS

[1] Knowledge utilization is a complex process involving political, organizational, socioeconomic, and attitudinal components in addition to the specific information or knowledge. Any serious study of knowledge utilization must be cognizant of the contribution-or intrusion of such factors to the eventual use of the information” [LARSEN, 1980:424]

BIBLIOGRAFIA

CETINA, K.K., (1999) Epistemic Cultures: How the Sciences Make Knowledge. Cambridge: Harvard University Press, 1999.

CHARLES, Anthony., Laura Loucks., Fikret Berkes., Derek Armitage., (2020) Community science: A typology and its implications for governance of social-ecological systems. IN Environmental Science & Policy, v. 106, pp. 77–86

COLOMBO, M., L. Bucher & Y. Inbar. (2016). Explanatory judgment, moral offense and value-free science. Review of Philosophy and Psychology 7: 743–763.

DAVITER, F. The political use of knowledge in the policy process. Policy Sci 48, 491–505

HAYEK, F.A., (1945) The Use of Knowledge in Society in The American Economic Review, v. 35, n.4, pp.519–530.

INNES, Judith E., & BOOHER, David E., (2016) Collaborative rationality as a strategy for working with wicked problems IN Landscape and Urban Planning, v. 154, pp. 8–10

LARSEN, J. K. (1980). Review Essay : Knowledge Utilization. Knowledge, 1(3), 421–442.

LORENZEN, M, & FOSS NJ., (2001) Cognitive coordination, institutions, and clusters: an exploratory discussion. København. 2001.

PYE, Lucian W., (1972) Culture and Political Science: Problems in the Evaluation of the Concept of Political Cutlure. IN Social Science Quarterly, v.. 53, n.2 pp. 285–296

RICH, R.F. (1977) “Uses of social science information by Federal Bureaucrats: knowledge for action versus knowledge for understanding,” in C. H. Weiss (ed.) Using Social Research in Public Policy Making. Lexington, MA: Lexington Books.

RITTEL, H. W. J., & WEBBER, M. M. (1973). Dilemmas in a general theory of planning. Policy Sciences, 4(2), 155–169

STRAßER, C., D. Šešelja & J.W. Wieland. 2015. Withstanding tensions: Scientific disagreement and epistemic tolerance. In Heuristic reasoning. Studies in Applied Philosophy, Epistemology and Rational Ethics, ed. E. Ippoliti, vol. 16, 113–146. Cham: Springer

TYLER, Chris., (2013) Top 20 things scientists need to know about policy-making. Guardian, 02/12/2013. https://bit.ly/3loUNRb. Consultado em 28 de agosto de 2020

WILDAVSKY, Aaron. 1987. “Choosing Preferences by Constructing Institutions: A Cultural Theory of Preference Formation.” American Political Science Review 81(1):3–22.

--

--

Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

No responses yet