DO PODER CONSTITUINTE AO PODER DESTITUINTE: Aporias da utopia democrática na era da segurança (Ihering Guedes Alcoforado)

A partir de uma instigante leitura dos fisiocratas, G Agamben ressalta a inversão de Quesnay, no enfrentamento da fome, ou seja, da securidade alimentar, deslocando o foco da preocupação do Estado com as causas, passando a tratar da gestão das suas consequências, configurando o embrião seminal do Estado Securitário que, enquanto um poder constituinte destrói a lei apenas para a recrear sob uma nova forma mais adequada ao enfrentamento dos efeitos.

Ou seja, toma os fundamentos da realidade que causa o problema como legítimos e avança por meio de mudanças radicais sobre a forma de um processo revolucionário que age enquanto o “poder constituinte” (pouvoir constituante) de uma nova ordem institucional focada no enfrentamento dos efeitos.

Agamben opõe-se a tal orienatação política ao propor que se abandone este paradigma e procure-se pensar algo como uma “poder distituinte” (puissance destituante), uma “potência destituinte”, que não possa ser capturada na espiral de segurança, mas pelo contrário problematiza-a na suas multiplas manifestações legais, criando assim as condições de possibilidades de uma nova época histórica que se configure além do Estado Securitário

O encaminhamento do ponto de vista político é uma praxis que explore claramente a anarquia e a anomia capturadas nas tecnologias securitárias do governo, a qual poderia agir enquanto um poder puramente destituinte. O problema é que tal praxis significa antes de mais a redescoberta de uma forma-de-vida e o acesso a uma nova figura dessa vida política cuja memória o Estado Securitário tenta a todo o custo apagar.

BIBLIOGRAFIA

AGAMBEN, Giorgio (2014) Por uma Teoria do Poder Destituinte” de Giorgio Agamben IN 5. DIAS.NET. goo.gl/oGdJiS