DAVID BORDWELL E A CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA: Das Grandes Teorias à Poética do Cinema (Ihering Guedes Alcoforado)
A crítica cinematográfica é, entre outros tanto, um campo vulneráveis a ondas analíticas potencializadas pelas ditas Grande teorias (Grand theory)que se sucedem, umas deixando seu legado, a exemplo do que já se nomeou de “diáspora semiótica”, enquanto outras nem isso. [1] Os inventário provisórios destas ondas já se acumulam algum tempo. [STAM et al, 1992]
David Bordwell é um representante emblemático da resistência a tais modas, apoiado num ceticismo com relação as grandes teorias, e na defesa do foco da critica em questões de nível médio, aquelas configuradas a partir tanto do processo cinematográfico endógeno ao cinema, como exógeno na sua relação com os expectadores. A originalidade e força da sua critica é uma decorrência do seu esquema que ao sistematizar o “senso-comum” da realidade manifesta na obra, nos lega uma crítica que não tem nada de comum. [BORDWELL, 2014; BORDEWELL &CARROO, 1996; CARROL, 1985]
Seu livro Poetics of cinema (2007) expressa esse universo de questões e, nele oferece uma sintetize das suas restrições as ditas grandes teorias tanto do ponto de vista epistêmico, como da crítica cinematográfica. No primeiro plano sua critica é que a maior amplitude destas ditas grandes teorias, tem como contrapartida uma camisa de força intelectual que resulta numa pratica repetitiva que transforma os insights originais em clichês.
“Theory, aka Grand Theory — is at once too broad and too narrow […] My aim is to produce reliable knowledge, both factual and conceptual, about film as an art form, in the hope that knowledge will deepende people´s undertanding of cinema. Rationanl-empirical research programs have been udertaken by many other film scholars, perhaps more by historians than by critics and theorists, but I try to annswer from a distinnctive angle. That angle I call the poetics of cinema.” pp.3/4)
Tais insights marcados pelo anti-cientificismo e pelo senso-comum [2]são rebatidos no campo da crítica cinematográfica, cujas particularidades o leva a defesa de uma teoria (com T minusculo) e prática da critica cinematográfica que ele propõe retomar e sistematizar em Poetics of Cinema (2007).
A despeito da sua resistência aos modismo, ou por isso mesmo, David Bordwell, justifica com esta obra porque é um dos mais influentes professores de cinema nos EUA.
Sua crítica cinematográfica no sentido estrito, privilegia tanto uma perspectiva diacrônica com foco nos períodos e estilos, como também opera numa ótica sincrônica, a exemplo dos seus trabalhos monográficos sobre Eisenstein, Ozu, Dreyer e, em ambas estão presentes as premissas ressaltadas acima: o anti-cientificismo e o senso-comum implícito na obra. Um produto emblemático deste programa de pesquisa é o livro que fez em parceria com com sua esposa Kristin Thompson, FILM ART, um manual padrão sobre a arte cinematográfica
Enfim, a produção da sua lavra o credita, portanto, no enfrentamento das modas das grandes teorias que varre como águas de março à praia da critica cinematográfica. Vale conferir.
NOTA
[1] Foi Guy Gautier nomeou e “a diáspora semiótica” que continua fornecendo o léxico para as aproximações ao cinema tais como as linguísticas, psicanalíticas feministas, marxistas e pós-marxistas, contribuindo também com as abordagens narrativisticas, as orientadas a recepção e as translinguísticas, entre outras.[STAM et al,
[2] Num contraste com o campo econômico, o anti-cientificismo de David Bordwell ressoa os insights de Hayek, enquanto sua inclinação pelo “senso-comun” como mediação a uma realidade concreta, apresenta afinidades eletivas com o Ronald Coase.
BIBLIOGRAFIA
BORDWELL, David., (2014)Shklovsky and His “Monument to a Scientific Error”. 2014. http://www.davidbordwell.net/essays/shklovsky.php
BORDWELL, David., (2011)Common Sense + Film Theory = Common-Sense Film Theory?. May 2011 http://www.davidbordwell.net/essays/commonsense.php#_ednref1
BORDWELL, David & THOMPSON, Kristin, A Arte do Cinema: Uma introdução. São Paulo: UNICAMP/EDUSP
BORDWELL, David., Poetics of Cinema. Routledge, 2007
BORDEWELL, David & CARROLL, Nöell., (1996) “Introduction,” IN Post-Theory: Reconstructing Film Studies. (Madison: University of Wisconsin Press, 1996).
CARROLL, Nöel., (1985) “The Power of Movies.” IN Theorizing the Moving Image (Cambridge: Cambridge University Press, 1996), 78–93.
METZ, C, “Problems of Denotation in the Fiction Film,” in Film Language: A Semiotics of the Cinema, trans. Michael Taylor (New York: Oxford University Press, 1974), 108–146.
METZ, C., Language and Cinema, trans. Donna Jean Umiker-Sebeok (The Hague: Mouton, 1974).
STAM, Robert et al (1992) Nuevos conceptos de la teoria del cine (Estructuralismo, semiótica, narratologia, intertextualidade). Barcelona. Ed. Paidós, 1992.