DA IDÉIA AO TEXTO: A Aventura na Criação de um ´Paper´— Ihering Guedes Alcoforado

O trabalho de supervisão e orientação que faz parte do dia a dia de todo professor, como é meu caso, nos coloca numa posição privilegiada de observador externo do desafio que, o estudante é submetido na primeira experiência de escrita autoral, ou seja, a que não se reduz a copiar e colar, ainda que não literalmente.

O núcleo duro do desafio é a apreensão da idéia por meio de palavras. Cada frase é concebida como uma etapa na apreensão e expressão da idéia que, a depender da imaginação do estudante, pode tanto ser abundante como escassa. Cada frase bem posta é uma apreensão parcial da idéia, que por sua vez reage a apreensãoa inda que parcial, assumindo novas configurações, inclusive com novos elementos.

A apreensão de uma idéia tal como o dominio de um território dar-se por partes, por frases isoladas, geradas uma a uma. As frases são concebidas sem uma articulação prévia, de forma que é normal que depois de um grande esforço de produzir um conjunto frases e suas respectivas apreensões parciais o resultado seja frustante, já que não produz o desejado: a apreensão da idéia original e suas mutações.

Essa apreensão só é possível por meio da edição das frases, por meio da qual se faz emergir, na grande maioria das vezes, não a ideía original, mas uma nova idéia; ou seja, as frases não apreendem a idéia, na verdade é um insumo para o processo de criação de uma nova idéia que emerge com a edição.

Por fim, é normal que o resultado do trabalho de dois semestres, quando exitoso, vá de encontro ao intento primário, ou seja a idéia original não se sustenta, e uma nova idéia impõe-se, obrigando o estudante/pesquisador a reposicionar-se diante da questão em tela: a porta de entrada para uma aventura criativa que apenas se inicia e que não terá final.