CONSUMO E PSIQUÊ

Ihering Guedes Alcoforado
2 min readAug 28, 2021

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IHERING GUEDES ALCOFORADO

O consumo é o ato sine qua non para nossa existência. Podemos não produzir, mas temos de consumir. Este ato é incontornável.

Para os economista ele tem como telos atender as nossas necessidades e, com o menor esforço possível (dor). Mas os psicanlistas, em especial os lacaniano chamam atenção que ao se consumir não só busca prazer, muitas vezes o telos é o “gozo”(jouisseur) concebido por Lacan como um excesso mortal além do princípio do prazer, e que é insaciável por definição.

Em função disso, admito que o consumo pode ser visto por dois ângulos distintos. Na perspectiva do economista o consumo visa saciar as necessidades concretas; enquanto que na ótica do psicanalista o consumo visa saciar necessidades reais, simbólicas e imaginárias, no sentido dado aos termos por J. Lacan.

De forma que a necessidade do consumidor da Economia é saciável, enquanto o da Psianalise é insaciável e, é a partir da consideração desses dois registros e da escansão das necessidades que chamo atenção para dois telos a estabelecer o sentido do consumo na nossa cotidianidade.

De um lado, o consumidor do economista busca um prazer saciando suas necessidades por meio de um processo que maximiza o prazer (saciamento da necessidade) diante das restrições contingentes. Do outro lado, o consumidor dos psicanalistas que busca saciar suas necessiedades “reais”, “simbólicas” e “imaginárias” por meio do gozo (jouisseur), o que o predispõe a consumir toda sua existência no excesso mortal do gozo, a exemplo do viciado em drogas determinado a se autodestruir na busca de saciar uma necessidade insaciável.

O paradoxo é que, para um grupo significativo dos que operam na Economia (Economy) real, o consumidor relevante não é o consumidor dos que operam na Economia (Economics) e que visa saciar suas necessidades saciáveis, mas o consumidor que é desvelado na Economia (Economics) Psíquica lacaniana e que não quer e nem pode saciar suas necessidades, configurando um paradoxo que se evidencia nas estratégias dos negócios que estimulam e canalizam o gozo (jouisseur) na direção dos bens e serviços que tais corporações produzem.

Enfim, não é um mero acaso que o negócio das drogas e dos jogos de azar, ambos viciantes, sejam atividades muito rentáveis; ao tempo em que a publicidade do automovel nunca coloca tal produto como um meio de racionalizar a mobilidade do seu proprietário, mas como um meio de realizar fantasias “simbólicas’ e “imaginárias” e, portanto insaciáveis por ser “reais”, no sentido lacaniano, ou seja,impossíveis de ser materializadas e alcançadas, configurando o dito “objeto a” lacaniano.

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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