BODAS DE SANGUE, A CULPA É DA TERRA (Ihering Guedes Alcoforado)

Ihering Guedes Alcoforado
3 min readMay 5, 2018

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La novia (2015) de Paula Ortiz trata do cotidiano angustiante de uma noiva potuado de elans-viatis apolíneos em erupção por meio de fantasias e que culmina numa explosão dionisiaco (êxtase) e que ao longo da narrativa transmite a nós espectadores, as emoções inerentes ao trágico submetido a mediação espanhola, ou seja, na sua tragicidade induzida por forças que estão além da mulher, afinal a “culpa estar na terra”.

A Paula Ortiz, tal como em Lorca, toma como referência resíduos mitológicos alojados na Espanha profunda e que residem em zonas que não se deixam controlar, mas que a diretora faz aflorar na tela a partir do uso de diferentes recursos, que se complementam, a partir do que orienta nossa atenção flutuante, envolvendo-nos não só nos simbolismo da Espanha profunda, mas dos seus efeitos nos conflitos interiores da Noiva.

Os recursos cinematográficos utilizados aviva a força vital dos elementos fundamentais da poética de Lorca:a lua, os astros, a terra e a paixão, integrando de forma visceral a dimensão interior da tragicidade da Noiva (Irma Cuesta) á “terra” na qual se escora a Espanha profunda e que é expressa por meio de planos nos quais se reflete uma afinidade eletivas com Anthony Mann, o grande mestre da apreensão do ambiente externo dos farowests.

Na potencialização dramática de tais resíduos mitológicos na estrutura narrativa de Paula Ortiz, alem da plasticidade dos planos que integra o mundo interior e exterior da Noiva vale destacar a função da musica e da dança.

A trilha sonora é do japonês Shigeru Umebayshi

potencializa e magnifica o afloramento de de sentimentos e emoções atávicas, as quais são magnificadas quando associadas a dança, em especial no baile, produzido e interpretado por David Angulo com a voz de Vanessa Martim. dois espetáculo artísticos, dentro de uma obra de arte e, tudo isso integrado de forma irretocável.

Em resumo, a A Noiva de Paula Ortiz nos envolve na tragicidade de Federico Garcia Lorca, a partir de uma tragédia feminina, e assim nos permite acompanhar um processo de gestação interior de uma explosão passional libertária em imagens em movimentos. O procedimento narrativo básico estruturado por meio de metáforas em três planos que antecipam o desenlace final: i) no interior das residências locus das paixões contidas, enquadradas e reprimidas, quando não consentidas em detrimento da mulher, ii) no espaço de transição dos jardins, locus da dança momento de expressão das paixões interiores, porém contidas e, por fim, iii) no espaço externo das montanhas, locus da explosão dionísiaco (êxtase)

Afinal, a culpa é da terra, do cavalo selvagem, que continua mobilizando resíduos mitológicos, expresso de forma emblemático no personagem Leonardo, o único com nome, e explosões passionais múltiplas, lembrando-nos do eterno confronto interior no ser humano, envolvendo a razão abstrata que norteia a lógica do patrimônio e a paixão encarnada que se expressa na explosão passional libertária da Noiva.

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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