BODAS BRANCAS (Noce Blanche, 1989) de Jean-Claude Brisseau

Ihering Guedes Alcoforado
2 min readMar 3, 2021

IHERING GUEDES ALCOFORADO

Hace falta estar muerto para ver las cosas desnudas.
Simone Weil

Bodas Brancas (Noce Blanche, 1989) de Jean-Claude Brisseau é um tipo raro de filme: daqueles que merece ser visto pelo que anuncia, mas não pelo que entrega.

Talento e sensibilidade não falta ao veterano Jean-Claude Brisseau, o que demonstrado na densidade dramatúrgica dos personagens a partir dos quais desdobra a narrativa. De um lado, a personagem de Vanessa Paridis: uma filha do 68 francês formada na transição da revolta do proletariado a mergulho no tudo é ilusão. Uma inteligência introspectiva, dispersiva, mas criativa. Do outro, a personagem de Bruno Cremer (arroz de festa na cinematografia de Jean-Claude Brisseau), como o professor François Hainaut, autor do livro a Filosofia Mistica de Simone Weil [1], uma inteligência focada, mas esterilizada na rotina de um casal intelectual de província: cuja principal atividade é cuidar da casa.

O anunciado encantamento do Prof. François Hainaut por uma inteligência em pleno desabrochar posto nas cenas iniciais leva o espectador (pelo menos no meu caso) a esperar encontrar na tela as intimidades desse tipo de relação que tem sua expressão mais celebre no relacionamento de um Heidegger maduro com uma jovem estudante judia: Hanna Arendt. Tal tipo de relação se desenvolve num clina erótico, mas tipo de erotismo que não se materializa no simples coito.

Talvez por isso, o mergulho neste tipo de relação que o filme promete não se concretiza. O que o filme entrega é um amontoado de clichês sobre o relacionamento de um cinquentão com uma adolescente, apimentado com erotismo e romantismo juvenil e, com o final de sempre: eu não disse, isso vai dá problema (dissolução de casamento e suicídio). Enfim, vale pelo que promete, mas não pelo que entregou.

NOTA

[1] O livro existe e é de autoria Mr. Gaston Kempfrer, La Philosophie Miystique de Simone Weil. Ed. La Colombe

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Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.