AS APORIAS DO CAPITALISMO E DA VELHA ESQUERDA (Ihering Guedes Alcoforado)
Numa análise do desastre eleitoral do trabalhismo inglês na última eleição do Reino Unido, Allan M Hillani, opera com duas “meias verdade”. A primeira é a consideração da visão obsoleta da política, da economia e do estado que fundamentou a proposta estatista dos trabalhista como a expressão natural da “esquerda”. A segunda que que não há absolutamente ninguém hoje que tenha clareza do que precisa ser feito.
O que acontece de fato é que estamos num momento de grandes deslocamentos na compreensão dos limites e possibilidades da Economia de Mercado, da Politica Democrática e do Estado direito. No caso da Economia chamo atenção para as críticas ao capitalismo formatada em Chicago, tendo como base uma crítica radical a propriedade privada. No âmbito da política se observa uma ampliação do seu escopo a partir de novas estruturas de governança que criam as condições para novas públicas, tanto estatais como não estatais, estabelecendo janelas de oportunidades que estão sendo aproveitadas por segmentos restritos da sociedade e, por fim, no âmbito do Direito o que se constata é um deslocamento do foco de interesse no direito positivo auto-referenciado, para um novo direito, sob influência do common law, que se institui de forma incremental e evolucionária tanto numa escala micro como macro institucional
Essas transformações em curso estão sendo concebidas e implementadas por protagonistas que estão fora das instituições e organizações políticas tradicionais concebidas e operadas a partir de uma lógica extraída de uma realidade pretérita, daí a pertinência da constatação do articulista que “[…] todas as nossas tentativas no mundo tem falhado de alguma forma”, o que evidentemente não se pode generalizar para os novos protagonistas vinculados ao “rentismo”.
Enfim, o problema é que tais inovações carecem de legitimidade política sólidas, pois são geradas a partir de pirotecnias populistas, tanto a esquerda, como a direita, donde na sequencia dos seus fracassos poder-se vislumbrar no horizonte do aprofundamento do processo em curso o “exterminismo” — como previsto por Peter Frase.
A solução implica numa requalificação do processo e tem como premissa os avanços tecnológicos e a praxis política necessárias i)a recriação dos mecanismos de apropriação por meio da instrumentalização das novas organizações e das novas instituições, o que implica novas configurações da economia, da politica e do estado, e ii) a refundação dos pilares da legitimidade política, tirando do nosso horizonte o extermínio, colocando no seu lugar a emancipação.
Mas, para tanto é preciso que a mobilização tenho seu escopo ampliado e, envolva não apenas os votos necessário ao acesso ao poder de decisão de organizações e instituições obsoletas, mas também as condições de criação e instrumentalização das novas organizações e instituições necessárias a reconfiguração da economia, da politica e do “estado”, alinhando-os a nova realidade posta tanto numa escala macro como micro.
Enfim, em vez da despolitização que marca o cenário comandada pelos novos protagonistas não estatais alojado nas grandes corporações, o que é necessário é a politização e a conscientização das novas possibilidades postas as sociedades contemporâneas, ou seja, mais política democrática.
REFERÊNCIAS
HILLANI, Allan M., (2019)Eleições no Reino Unido: mais uma derrota. IN Portal Dispara. https://bit.ly/34mlHj9
FRASE, Peter., (2015) Quato Futuros. In O Minhocario. https://bit.ly/2LX6SNr