ARCO E A LIRA: As Questões Norteadoras da Reflexão de Octavio Paz — Ihering Guedes Alcoforado

Ihering Guedes Alcoforado
2 min readNov 18, 2021

A revistação das leituras dos anos de formação é um mergulho na imprevisivilidade inerente ao reencontro com os registros materiais das emoções e sensações que sentida e vivida num momento, nos acompanhou pelo resto da vida como um anjo da guarda, sempre presente na memória recôndita, tanto pode nos decepcionar como nos encantar.

Os escritos de Octavio Paz faz parte da minha formação, a ele devo o despertar para a dimensão poética do mundo. Dai que o reencontro com o texto de O Arco e Lira (sobrenome da mulher que se impos a mim como o “outro”, enquanto a janela de acesso a humanidade: Joana Gonçalvez Lira), detonou um processo que, inspirado na filosofia da linguagem adâmica de Walter Benjamin, ouso nomear de “reencatamento crítico. Crítico porque filtarado pelas restrições de uma vida vivida que, radicalmente diferente do grande herdeiro de Alfonso Reysm, se esquivou da dúvida ontológica que norteou a vida do Octavio Paz: i)transformar a vida em poesia escrevendo poemas ou ii) fazer poesia com a vida.

O dito reencantamento crítico se manifestou por etapas: a) a da identificação e a b) da empatia. A primeira etapa do reencantamento crítico derivou-se da identificação com a primeira frase da Advertência à primeira edição do referido livro:

“Escrever, talvez, não tenha outra justificativa senão tratar de responder a essa pergunta que um dia nos fizemos e que, por não ter recebido resposta, não cessa de nos aguilhoar”

O reencantamento deveu-se ao fato que a questão que norteia o poeta mexicano põe em xeque todo seu projeto de vida visceralmente poetico ao se questionar: “Há um dizer poético — o poema — irredutível a qualquer outro dizer ? O que dizem os poemas ? Como se comunica o dizer poético?

Já a segunda etapa do reencantamento crítico se manifesta no estabelecimento de uma relação empática com a problemática do autor requalificada pela experiência de vida deste que escreve esta nota e, que foi dedicada a um outro dizer, o dizer econômico, o qual tal como o dizer poetico se pode, no rastro de Octavio Paz, indagar: Há um dizer econômico irredutível a qualquer outro dizer ? Minha resposta provisória é não.

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Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.