ANDRÉ GORZ: Do Crescimento Destrutivo ao Decrescimento Produtivo — Ihering Guedes Alcoforado
O Instituto Manoel Xavier de Carvalho (Xavierzão) se institui a partir de um compromisso moral com o desenvolvimento local sustentável e inclusivo e, por isto promove as Cátedras Livres com o objetivo de prospectar insights na fundamentação das políticas de fomento a tal desenvolvimento.
É neste contexto que se insere a contribuição de André Gorz, a qual parte de uma problematização do prever e prover que orienta nossas políticas de crescimento linear, a partir do que apresenta uma alternativa já previamente pronta e concebida numa escala global, no que reflete a “camisa de força” que aprisionou uma boa parte da sua geração. Mas, se sua alternativa por meio do socialismo e do comunismo idealizado em nada contribui como subsidio a formalização da politica acima aludido, o mesmo não se pode dizer do seu diagnóstico da economia capitalista focada num crescimento destrutivo já reconhecido por outros autores, entre os quais destaco a Joseph Stiglitz.
Para A Gorz a atual orientação política focada na previsão econômica
“[…] grava as tendências atuais e as prolonga para o futuro como se tratasse de dados imutáveis” além de considerar que “o consumidor está a serviço da produção, (ver a ctítica deGalbraith), deve assegurar para ela as oportunidades que ela demanda, deve precisar daquilo que é necessário à expansão das vendas mais lucrativas. Assim, dar-no-ão essa necessidades. é preciso que seja assim, para que a sociedade se perpetue, suas desigualdades se reproduzam, seus mecanismos de dominação fiquem como estão.’ [GORZ, 2008/2010:58–59]
Ou seja, para A Gorz
“As previsões de consumo que orientam a atividade econômica sempre se baseiam sobre essa hipótese: a sociedade não mudará profundamente, nem sua maneira de produzir, nem de consumir e de viver, sempre haverá pobres e ricos, pessoas que obedecem e outras que mandam […] Continuaremos a viver apressados, a não ter tempo, nem gosto, para as atividades autonômas. Nós não teremos nem o desejo nem o poder de refletir sobre nossas necessidades, debater com os outros os melhores meios de satisfazê-los e definir soberanamente as opções coletivas correspondentes.” [GORZ, 2008/2010:59]
E, arremata sua recusa as previsões como sendo de ordem política:
“A previsão econômica não é, pois, um fato neutro. Ela reflete a escolha política tácita de perpetuar o sistema vigente. A escolha nada tem a ver com a objetividade, nem com o rigor científico. A sociedade atual não é a única possível e seu modo de funcionamento nada tem de necessidade objetiva. Nós temos o direito de recusar as previsões oficiais e as necessidades que delas decorrem. Mas precisamos estar conscientes de que essa recusa é uma recusa da ordem social existente, uma recusa política.” [GORZ, 2008/2010:59]
Para A Gorz
“A idéia de que produção e consumo podem ser decididos a partir de necessidades é politicamente subversiva. De fato, isso supõe que aqueles que produzem e os que consomem podem se juntar, refletir e decidir soberamente. Isso supõe um sociedade em que esteja suprimido o poder de decisão do capital e/ou do Estado em matéria de investimento e de produção, de inovação e de política comercial. Isso supõe, enfim, uma gestão econômica cujo objetivo é satisfazer o mais completamente possível as necessidades com a menor quantidade possível de trabalho, de capital e de recursos físicos.” [GORZ, 2008/2010:59]
Enfim, o programa de A Gorz envolve uma negação radical da lógica capitalista:
“ Ele implica a vontade de proporcionar o máximo de satisfação com o mínimo de produção. Tal busca de uma eficácia máxima de satisfação com o minimo de produção. Tal busca de uma eficácia máxima e, assim, da economia máxima, é tão radicalmente estranha à lógica capitalista que a teoria macroeconômica não é nem mesmo capaz de contabilizar a economia.” [GORZ, 2008/2010:59–60]
O que não o impede de modelar o problema de foma pertinente a partir do seu foco no desperdício, mas o mesmo infelizmente não acontece com sua solução:
“Como substituir um sistema econômico fundado sobre o desperdício máximo por um sistema baseado no desperdício mínimo ? Essa questão antiga tem mais de um século; de fato, é a questão da substituição do capitalismo pelo socialismo […] A utilização do termo “socialismo”, aliás é inapropriado aqui. é preferencialmente de “comunismo” que devemos falar; […]” [GORZ, 2008/2010:61]
Enfim, o remetimento da solução para o “comunismo” é no minimo paralisante, dado que baseia-se na premissa que o “o pleno desenvolvimento das forças produtivas” já está realizado.”, restando apenas “uma organização diferente da economia”.[GORZ, 2008/2010:61]
REFERÊNCIAS
GORZ, André.,Crescimento Destrutivo e Decrescimento Produtivo IN Ecológica. São Paulo: Annablume. 2008/2010.