A ÁRVORE, O PREFEITO E A MEDIATECA (L’Arbre, le Maire et la Mediatheque,1993)

Ihering Guedes Alcoforado
3 min readSep 30, 2022

IHERING GUEDES ALCOFORADO

O filme de Éric Rohmer permite múltiplas aproximações, aqui destaca a polítca no sentido amplo, ou seja, aquela que envolve três registros apreendido por três termos distintos no idioma inglês: politics, polity e policy.

A partir de um olhar político o filme tem como substrato material o problema rural francês decorrente do processo de industrialização durante o século XX, o qual é simbolizado nos três referidos planos pelos personagem: Julien Duschamps, o prefeito de St. Jurie e, sua namorada a escritora parisiense, Bérénice Beaurivage.

As Duas Simbolizações do Meio Rural

A simbolização do meio no qual se insere os personagem é feita por uma série de planos nos quais o Prefeito apresenta o campo a sua namorada, lembrando uma cenas de Hora Azul, na qual a camponesa apresenta a amiga parisiense o campo. Mas aqui com uma diferença importante: o destaque dado regulamentação ambiental o que se expressa pela proibição de colher uma flor (salvas) por um decreto governamental que considera a localidade como especial, ao tempo, em que é apresentado as diferentes e opostas simbolizações da relação da cidade com o meio rural.

A escritora parisiense, Bérénice Beaurivage, namorada do Prefeito,adora o campo por ser calmo e bonito, mas só por 2 ou 3 dias, mais do que não só a enjoa, como a faz perder inspiração, em resumo, a paralisa. Ela precisa de barulho, agitação, de bagunça para poder criar.

Enquanto que para Julien Duschamps, o prefeito de St. Jurie e seu namorado, ela não tem idéia de como o campo mudou e está mudando ao longo de um processo que a sociologia rural comtemprânea considera ser o “novo rural” que, decorre da transformação assinalada pelo Prefeito, de um país essencialmente agrícola, no ínicio do século XX, num pais exclusivamente industrial num curto intervalo de tempo. Isto porque, cada vez mais as pessoas estão morando no campo, de forma que prever que daqui a 50 anos a maioria das pessoas residirão no campo, mas exercendo atividades urbanas ou consideradas como tal, o que também acontecer com a população nativa, que cada vez mais se dedicam a atividades não agrícolas (as atuais 36 áreas agrícolas deverão sobreviver 5 ou 6), a exemplo de pedreiros, marceneiros, jardineiros em empresas das adjascências.

A escritora parisiense, Bérénice Beaurivage, sua namorada entende que Julien Duschamp, o Prefeito, deve passar o menor tempo possível na comunidade, e, permanecer mais tempo em Paris fazendo intriga política, cujos resultados do ponto de vista político (politics), ou seja,fazer intriga para conquistar os grandes da política, traz muito mais frutos para sua carreira política. Já o Prefeito odeia intriga e prefere conquistar a aliados de outros partidos e os leitores locais, nos quais vislumbra sua força são muito mais promissores. Enfim, ele prefere focar na luta local, viver num ambiente agradável, realizando com que gosta aquilo que gosta.

Com a proposta de construção de uma vidioteca o filme assume um outro escopo do ponto de vista espacial e político, entrando em cena os dois outros registros da política: a policy (política governamental e polity (politica constitucional). CONTINUA

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Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.