A CÂMARA DE CLAIRE: A Relação Simbiótica da Fotografia com o Cinema (Ihering Guedes Alcoforado)
A câmera de Claire (2017)de Hong Sang-soo com Min-hee Kim(Manhee), Yanghye Nam (Chang Mi-hee), So (Jin-yeong Jeong) e Claire (Isabelle Huppert), como o título já anuncia é uma reflexão sobre a fotografia em imagens, o que não compromete a dramaturgia, muito pelo contrário.
A função fotografia que, longe de ser singela, é duplamente magnificada no filme por meio de Claire pois, são suas fotografias que estrutura a narrativa, atando os diferentes núcleos do filme, além de proporcionar os momentos epifânicos densos de sensibilidade.
O primeiro aparecimento da fotografia é o registro no final do encontro no qual Mee foi informada da sua demissão, de seu emprego burocrático numa produtora, em cujas poucas cenas se ressalta em letras garrafais a expressão SELF. O fato inesperado foi o fato de Mee sugere registrar fotograficamente este encontro, para surpresa da patroa e dos próprios telespectafores, dado que a demissão que teve como argumento da patroa que, ela mesmo tendo um “bom coração”, não era “honesta”, lançando no ar o espectro da honestidade ameaçando a todos, como também um enigma a ser esclarecido ao longo de todo o filme.
Enigma esse que começa a ser revelado por meio de uma trama pontuada por fotografias e reflexões sobre o fenômeno fotográfico patrocinado por Claire (Isabelle Huppert), cujas fotos Ata a narrativa ao evidenciar a “relação” dos coreanos, em mão dupla: primeiro com a foto casual de Manhee, que Calaire mostra ao diretor e sua esposa na qual eles ressaltam sua “maquiagem pesada” e, depois, com a fotografia do diretor, apresentada casualmente a Mee por Claire o que desata suas confidências.
Mas, o papel da fotografia vai além, ou seja, não se resume em articular a narrativa, mas contribui para o desvelamento do enigma, o que expresso de forma emblemática quando quando Claire aponta para a câmara e afirma que “A única maneira de mudar as coisas é observando-as devagar”. Ou seja, é o anúncio que a arte fotográfica em geral e as fotografias de Claire, em particular iram ter no filme ao atar a narrativa e, na auto-compreensão das personagens e dos seus dramas, tão bem expresso na tela..
O resultado, não podia ser melhor, resolvida trama narrativa, fica evidenciado: “ a afirmação de um olhar que já se permite dispensar artifícios para preencher a tela de vida e cinema”, tomando emprestado as palavras do jovem cineasta Daniel Dalpizzolo.