A PADEIRA DO BAIRRO (La Boulangère de Monceau, 1963)

Ihering Guedes Alcoforado
2 min readSep 29, 2022

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IHERING GUEDES ALCOFORADO

Caludine Soubrier e Fred Junk

Em La Boulangère de Monceau (1963), o primeiro dos seis contos morais que o cineasta só encerraria em 1972, já se encontram em latência não só os temas e problemas que estarão presentes em seus personagens subsequentes na série Conto Moraiso desejo, a mania, a obssesão e o acaso dos encontros, no caso em tela um esbarrão.

A trama é emoldurada num cenário dominado pela arquitetura registrada não só pelos longos planos sequência mas também pela nominação, por meio do que nos apresenta o cotidiano parisiense, em meados do século XX.

O filme pode ser considerado um monologo dado a quase total ausência de diálogos que são substituídos pela voz off/over do protagonista principal, Schroeder, um jovem estudante que se interessa por uma mulher, Sylvie (Girardon), funcionária de uma gaaleria, que sempre vê nas ruas próximas ao café que freqüenta. Mas, que dado sua timidez e indecisão, nunca a aborda: “Ela não era mulher a se deixar abordar no meio da rua.E chegar dessa maneira não é do meu feitio. Contudo eu sentia sua disposição ao meu favor. Uma excessão à regra como a minha. Não havia risco”

De forma que o encontro só acontece graças a uma trombada na rua, quando estabelecem um pequeno diálogo que resulta no agendamento de um encontro que, em decorrência de um acidente Silvie sofre logo em seguida, não aconteceu como o previsto: “Minha sorte inesperada foi seguida de um azar extraordinário… Não a vi mais”

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Em função disso, a “paixão escópica” que até antes da trombada dominava o jovem Schroeder, com a ausência do objeto do desejo, transforma-se em uma “ paixão obssessiva” que se manifesta numa mania por doces, e numa transferência complicada do seu desejo para a jovem Jacqueline (Soubrier), a padeira que lhe vendia os doces: “me agrada que perceba minha mania e entro no jogo”. No entanto a transferência do objeto de desejo de Schoroeder foi problemática: “Foi contra a padeira que dirigi minha irritação. O que me chocava não era que pudesse gostar de mim, mas que pensasse que eu poderia gostar dela. Como para me justificar, dizia a mim mesmo que era culpa dela e que tinha de ser punida por suas pretensões.a

O desenlace da trama dá-se no dia que, finalmente o jovem Schroeder marca um encontro com a padeira Jacqueline, e, instantes depois reencontra Sylvie, e a convida para jantar no mesmo dia e horário que tinha marcado com a padeira.

Ou seja, deu um um “bolo” na padeira, já que poderia ter evitado convidando Sylvie num outro dia o que justifica como uma ESCOLHA MORAL: “Tendo Silvie, sair com a padeira seria o cúmulo da tara, da aberração. Uma era minha verdade a outra um erro”.

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Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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