A MULHER DO AVIADOR: O Sentimento do Pensamento no Olhar

IHERING GUEDES ALCOFORADO

O reencontro com Marie Rivière no papel de Anne no filme A Mulher do Aviador (1981) de Eric Rohmer propiciou um encontro com o sentimento do pensamento do olhar na escuta.

Anne (Marie Rivière) é posta diante de uma situação existencialmente complexa balizada, de um lado pela rejeição do amante e, do outro lado pelo assédio indesejado do namorado, a qual é expressa por meio de diálogos que Eric Rohmer aproveita para evidenciar a centralidade do pensamento no diálogo. Ou seja, o diretor usa a estrutura dialógica para articular o filme e, assim, representar Anne pensando o tempo todo não só para expressar-se por meio de palavras e gestos, mas principalmente enquanto escuta.

Não são duas pessoas falando, mas uma falando enquanto a outra escuta e, é nesse vai e vem que Anne evidencia o papel da escuta no pensamento, o que tem seu ápice quando por meio do seu olhar súbito e evasivo para o céu, Anne revela para os bons observadores o sentimento do seu pensamento, o que é magnificado por meio da melancolia melódica do seu olhar.