A LUTA DE CLASSE de Michel Leclerc (2019): Uma Elegia a Integração Interétnica(Ihering Guedes Alcoforado)
A LUTA DE CLASSE (La Lutte des Classes) de Michel Leclerc (2019)atualiza uma temática recorrente no cinema francês a ponto de já ser considerado um gênero da cinematografia gálica e, como todo ser que permanece vivo ao longo do tempo evolui.[BRUCK, 2019]
Nos tempos grandes narrativas os personagens heroicos alinhavam-se a história e se pretendiam portadores do futuro, e a luta de classe privilegia mudanças evolucionárias ou mesmo radicais na estrutura da sociedade A tensão que articulava as narrativas dos filmes políticos era a estabelecida capitalismo posto e o socialismo imaginado, hoje, com a supressão da alternativa socialista o cinema político volta-se para as consequências, efeitos e aporias do capitalismo.
Uma possível chave de leitura da obra cinematográfica de Michel Leclerc tal como a obra de Balzac é que ela se insere na transição entre duas ordens que caracterizam dois momentos históricos distintos. De forma que parodiando a referência de Marx acerca de Balzac, pode dizer que Michel Leclerc apresenta uma maravilhosa história realista de um fragmento da ‘sociedade’ francesa, e, assim amplia nossa “consciência receptora”, aquela que nos permite o acesso a uma série de informações sobre o mundo vivido e que são inacessível sem uma mediação sintética, dado que tais informações são para nós, as pessoas comuns que vamos ao cinema, parte inacessível e parte acessível de forma deformada.
Isto porque, em A LUTA DE CLASSE (La Lutte des Classes) (2019) Michel Leclerc amplia nossa “consciência receptora” de questões sociais relevantes ao por na dostela múltiplos conflito de base étnica associados as família dos alunos de uma escola de ensino fundamental na periferia de Paris, a partir do que destaca uma conflitualidade difusa que tem sua referência na diversidade de valores que avança na sociedade, uns no rastro de 68, outros na direção oposta em decorrência da imigração diversa etnicamente e, assim dá um passo no seu afastamento dos grandes relatos já que não mais expressa uma compreensão da realidade com qualquer afinidade eletiva com as grandes narrativas moderna e suas visões revolucionária ou evolucionária das macro instituições.
.A Luta de Classe de Michel Leclerc é um registro sensível, atento e nuançado dessa nova conflitualidade difusa que se manifesta no cotidiano de uma Escola Pública, que não por acaso é nomeada de Jeans Jaurés: o ponto de convergência de conflitos interétnicos, os quais são potencializados pela crise de segurança que obriga transferir recursos da manutenção das instalações para assegurar a segurança, resultando na degradação física da Escola.
A narrativa se estrutura a partir i) não só da resistência de uma família progressista (um roqueiro alternativo parisiense e uma advogada de origem árabe relativamente bem sucedida) em tirar seu filho da escola pública, cada vez mais frequentado por filhos de migrantes não aculturados na França. A resistência deve-se a fidelidade aos seus ideais inspirados em 68 e em divergência com seus amigos francês que transferem seus filhos para escolas privadas; 2) mas também das dificuldades de encontrar uma escola alternativa, seja pela burocracia no caso da Escola publica que restringe o acesso ao residentes no Bairro, seja pelo perfil do pai, roqueiro alternativo e critico da religião em matricular seu filho numa escola católica.
Os personagem são nuançados com suas ambiguidades na defesa da Escola pública como a última trincheira de luta do progressivismo pequeno-burgues. O casal em torno do qual se articula o “cluster narrativo” é formado por um a) roqueiro que incorpora o legado de 68 que fiel aos seus princípios não vê outra alternativa a não ser ficar aprisionado aos seus sonhos e que sempre são postos em cheque pela realidade do tempo presente parisiense e, por uma b) migrante integrada, que evolui nas suas relação afetivas de um migrante muçulmano para um roqueiro alternativo.
Ela, uma especialista em resolução de conflitos encarna as ambiguidades dos personagens de forma emblemática, pois a despeito da sua pratica profissional ela é a principal provocadora de conflitos, a exemplo da sua agressão a uma criança da escola, o qual foi potencializado no jantar oferecido aos pais da criança. Conflito explorado pelo diretor para evidenciar e aprofundar as ambiguidades do casal progressista trazendo a tona as diferenças de valores e de realidades nos quais se assentam o racismo e discriminação do roqueiro anarquista.
Ele, o roqueiro anarquista permanece um defensor radical da Escola publica por representar seu ideal liberal de igualdade de oportunidades e por entender que a escola privada é uma fuga da realidade, ao tempo em que tenta resistir ao capitalismo em outras frentes, ora tentando enfrentar sua especulação imobiliária vendendo seu apartamento a preço histórico, ora mantendo-se como músico alternativa, compondo e executando suas música sobre e para os excluídos.
A única iniciativa de sucesso do roqueiro anarquista foi sua idéia de explorar a proibição a arte como um incentivo ao seu consumo, o que foi um sucesso de fato, mas que evidenciou as ambiguidades da situação do casal francês, pois terminou gerando um dos mais grave conflito para seu filho, um dos mentores da forma de acessar ilegalmente o cinema, dado que seus colegas, os beneficiários da estratégia entenderam que ele como era “rico” devia pagar.
A mensagem final é de otimismo, ao insinuar a possibilidade de integração e formação ou mesmo preservação do espírito comunitário a partir da integração dos signos da diversidade, o que é sinalizado a) ora pela própria trajetória migrante que tornou-se uma advogada integrada, o que em parte deve-se a estratégia do Escritório apresentar uma imagem multi-étnica; b) ora pela possibilidades de aproximação dos diferentes por meio das atividades coletivas, seja uma horta orgânica, seja um cortejo carnavalesco e, por fim c) o uso dos véus das mulheres na salvação do diretor acidentado, o que simboliza