A EMPATIA CINEMÁTICA: Uma Nota (Ihering Guedes Alcoforado)

Ihering Guedes Alcoforado
4 min readApr 30, 2018

--

VAAGE, 2010

Na nota cinematográfica sobre o filme PLEASE STAND BY de Ben Lewin, insinuo uma empatia com a personagem principal, por meio do que expresso o que Maya Deren nomeia de “inocente arrogância” de um fato aparentemente objetivo, mas na verdade contestável.

Na ocasião não considero que a relação do telespectador com a personagem é objeto de um debate no qual se perfila duas posições distintas, as quais precisam ser evidenciados e debatidas,de forma a criar as condições para que, em cada crítica, se possa justificar a natureza da relação estabelecida entre o críticos e os personagens. Também não considero que a própria caracterização da personagem como autista é problematizável, dado que no sentido estrito a autista não se constitui um sujeito, o que nos remete ao estado arte no campo dos diagnósticos psi e sua representação no cinema, o que se encontra, no momento, fora do meu alcance, mas que tratarei no momento oportuno.

Nesta nota me restrinjo as possíveis caracterização da natureza da minha (e de todos os demais telespectadores) relação com a personagem e da emoção daí decorrente, a partir de uma literatura que se configura em oposição a abordagem psicanalítica fundada na prospecção do prazer e do desejo. Emoções tratadas do ponto de vista cognitivo e que tem como premissas a complementaridade da emoção e da cognição, o que assegura a emoção propiciada pelo cinema longe de ser um mero escape da vida real, na realidade pode nos inserir nela.[PLANTINGA & SMITH,1999: 13/15; PERKINS, 1972]

De um lado, existe um posicionamento cognitivista com o qual me alinho na referida crítica, e que é expresso e sistematizado pelos autores que admitem a possibilidade de um engajamento emocional do telespectador a nível de uma relação empática. [COPLAN, 2004, 2009. GRODAL, 1997 cap. 4; NEIL, 1996; SMITH, 1995. 1997; GAUT, 199, 2010a cap. 6, 2010b; MORRISON, 1988]

Uma outra perspectiva cognitivista agrega os que entendem que na relação do telespectador com o filmenão se dar a empatia e a identificação, mas apenas uma relação de simpatia antipatia, ou seja, o telespectador sempre será um outsider. [CARROLL,1990, 88–96; 1998, caps. 4 e 5; 2004; 2007; 2008, cap. 6; PLANTING, (1999; 2009, 97–106).

As divergências são decorrentes de premissas ontológicas que precisam ser puxadas para a superfície se não no momento da redação da crítica, certamente por ocasião do debate, donde a necessidade de mapeamento do campo, de forma a torná-lo o mais rico possível .

BIBLIOGRAFIA

ALCOFORADO, Ihering G (2018b)PLEASE STAND BY: Da Identidade à Identificação Autista IN Medium, Disponibilizado em 27 de abril de 2018. https://bit.ly/2r0mtR4

#CARROLL, Noel . 1990. The Philosophy of Horror or Paradoxes of the Heart. London: Routledge, pp88–96;

CARROLL, Noel.1998, A Philosophy of Mass Art. Oxford: Clarendon Press chaps. 4 and 5;

#CARROLL, Noel (2004) “Sympathy for the Devil.” In The Sopranos and Philosophy: I Kill Therefore I Am, ed. Richard Greene and Peter Vernezze, 121–36. Chicago: Open Court.

CARROLL, Noe (2007) . “On Ties that Bind: Characters, the Emotions, and Popular Fictions.” In Philosophy and the Interpretation of Pop Culture, ed. William Irwin and Jorge J. E. Gracia, 89–116. Lanham, MD: Rowman and Littlefield.

CARROLL, Noel (2008), The Philosophy of Motion Pictures. Malden, MA: Blackwell. cap. 6)

#DEREN, Maya, Cinema: O Uso criativo da realidade. Devires, 2012, v. 9, n. 1, pp. 128/149

GAUT, Berys 1999. “Identification and Emotion in Narrative Film.” In Passionate Views: Film, Cognition, and Emotion, ed. Carl Plantinga and Greg M. Smith, 200–16. Baltimore, MD: The Johns Hopkins University Press

GAUT, Berys. 2010a. A Philosophy of Cinematic Art. Cambridge: Cambridge University Press.

#GAUT, Berys. 2010a. Empathy and Identification in Cinema IN Midwest Studies in Philosophy, XXXIV (2010)

GRODAL, Torben (1997) 1997. Moving Pictures: A New Theory of Film Genres, Feelings, and Cognitions. Oxford: Clarendon Press cap. 4

MORRISON, Karl F., (1988) I Am You(The Hermeneutics of Empathy in
Western Literature, Theology,and Art. Princeton: Pricenton University Press.

#NEIL, Alex 1996. “Empathy and (Film) Fiction.” In Post-Theory: Reconstructing Film Studies, ed. David Bordwell and Noël Carroll, 175–94. Madison: University of Wisconsin Press

PERKINS, V.V., (1972) Film as Film: Undesrtanding and Judging; Penguin Books, 1972

PLANTINGA, Carl, (1999) Passionate Views: Film, Cognition, and Emotion, ed. Carl Plantinga and Greg M. Smith, 239–55. Baltimore, MD: The Johns Hopkins University Press

PLANTINGA, Carl, (1999) . “The Scene of Empathy and the Human Face on Film.” In Passionate Views: Film, Cognition, and Emotion, ed. Carl Plantinga and Greg M. Smith, 239–55. Baltimore, MD: The Johns Hopkins University Press.

PLANTINGA, Carl, 2009, Moving Viewers: American Film and the Spectator’s Experience. Berkeley: University of California Press 97–106)

SMITH, Murray, 1995. Engaging Characters: Fiction, Emotion, and the Cinema. Oxford: Clarendon Press

SMITH, Murray, 1997 . “Imagining from the Inside.” In Film Theory and Philosophy, ed. Richard Allen and Murray Smith, 412–30. Oxford: Clarendon Press.

#STADLER, Jane.,The Empath and the Psychopath: Ethics, Imagination, and Intercorporeality in Bryan Fuller’s Hannibal IN Film-Philosophy 21.3 (2017): 410–427 DOI: 10.3366/film.2017.0058

VAAGE,Margrethe Bruun, Fiction Film and the Varieties of Empathic Engagement IN Midwest Studies in Philosophy, XXXIV (2010) https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/j.1475-4975.2010.00200.x

--

--

Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

No responses yet