A ECONOMIA DE FRANCISCO E O PARADOXO RENDA-FELICIDADE: Uma Nota— Ihering Guedes Alcoforado
A felicidade e o desenvolvimento social se coloca como um telos da Economia do Francisco e posiciona-se, portanto, no topo da agenda. Em função disso se torna necessário esclarecer o aparente paradoxo que se manifesta nos indícios da associação do crescimento econômico baseado na economia de mercado e a redução da felicidade.[SCITOVSKY, 1976; ; ANTOCI et al, 2005; LANE, 2000; BARTOLINI, 2006].
A descrição do paradoxo é feita por Bruni (2008) ao chamar atenção que
“A relational theory of happiness would explain the income–happiness paradox by arguing that higher income levels are associated with a tendency to over-consume material goods and under-consume relational goods, an important determinant of subjective happiness. […] If less relationality leads to less happiness, the key question is why people consume lower and lower levels of relational goods.” [BRUNI, 2008:526]
O problema sinalizado acima é bem detalhado na literatura e pode ser considerado como manifesto em suas múltiplas variantes como a degradação dos três bens relacionais básicos aristotélicos: i) amizade, ii) amor e iii) participação civil[EASTERLIN, 2005; PUTMAN, 1995; RYFF & SINGER, 2000]
Nesta perspectiva, a configuração da Economia de Francisco envolve, portanto, a reversão dessa tendência de degradação, o que impõe aos seus desenvolvedores uma decisão de alinhamento estratégica com relação ao crescimento: i) adotar uma orientação progressista baseada no mercado e busca aumentar a felicidade por meio de crescimento qualitativamente distinto com uma maior participação dos bens públicos clássicos e dos novos bens públicos, a exemplo dos “bens relacionais” ; ou, ii) assumir uma orientação regressiva sinalizada por Franco Berardi (Bifo) que propõe privilegiar-se a busca da maior felicidade coletiva por meio de uma re-erotização [1]da vida e, por consequência da economia, criando ilhas de prazer, de relax, de amizade, lugares nos quais não esteja em vigor a lei da acumulação e da troca.[BERARDI,2007]
Em ambos casos tem-se implícito a postura nomeada por Serge Latouche como’ “a-crescimento”, uma forma de sinalizar o abandono tanto da fé no progresso como da religião do desenvolvimento tal como realmente existentes, o que não exclui outras possibilidades.
NOTA
Para Franco Berardi “La deserotización es el peor desastre que la humanidad pueda conocer, porque el fundamento de la ética no está en las normas universales de la razón práctica, sino en la percepción del cuerpo del otro como continuación sensible de mi cuerpo. Aquello que los budistas llaman la gran compasión, esto es: la conciencia del hecho de que tu placer es mi placer y que tu sufrimiento es mi sufrimiento. La empatía. Si nosotros perdemos esta percepción, la humanidad está terminada; la guerra y la violencia entran en cada espacio de nuestra existencia y la piedad desaparece. Justamente esto es lo que leemos cada día en los diarios: la piedad está muerta porque no somos capaces de empatía, es decir, de una comprensión erótica del otro.”[BERARDI. 2020]
BIBLIOGRAFIA
ANTOCI,, A., Sacco, P., Vanin, P., 2005. On the possible conflict between economic growth and social development. In: Gui, B., Sugden, R. (Eds.), Economics and Social Interaction. Cambridge University Press, Cambridge, pp. 150– 173.
BARTOLINNI, S., 2006. Why are people so unhappy? In: Bruni, L., Porta, P.L. (Eds.), Handbook of Happiness in Economics. Elgar, Cheltenham. Baumeister.
BERARDI, Franco., (2007) “La felicidad es subversiva” IN Jornal Pagina 12/11/2007 https://bit.ly/2CSDWVB. Consultado em 26 de julho de 2020
BRUNI, L., & STANCA, L. (2008). Watching alone: Relational goods, television and happiness. Journal of Economic Behavior & Organization, 65(3–4), 506–528. doi:10.1016/j.jebo.2005.12.005
EASTERLIN, R., 2005. Towards a better theory of happiness. In: Bruni, L., Porta, P.L. (Eds.), Economics and Happiness: Framing the Analysis. Oxford University Press, Oxford, pp. 29–64
LANE, R., 2000. The Loss of Happiness in Market Economies. Yale University Press, New Haven and London.
LATOUCHE, Serge., (2020) Decrecimiento en el norte y antiextractivismo y descrecimiento en el sur. https://bit.ly/3hCqL9V
PUTMAN, R.D., 1995. Bowling alone: America’s declining social capital. Journal of Democracy 6, 65–78.
RYFF, C.D., Singer, B., 2000. Interpersonal flourishing: a positive health agenda for the new millennium. Personality and Social Psychology Review 4, 30–44.
SCITOVSKY, T., 1976. The Joyless Economy: An Inquiry into Human Satisfaction and Consumer Dissatisfaction. Oxford University Press, Oxford.