A CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA: As Visões de J-L Godard e Manoel de Oliveira

Ihering Guedes Alcoforado
3 min readSep 15, 2022

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IHERING GUEDES ALCOFORADO

Manoel de Oliveira e J-L Godard (19

“Se os cientistas são muito fortes hoje, é porque eles são os únicos que ainda trocam críticas.”[GODARD,1993]

“. É a única coisa de que eu tenho necessidade, a crítica. E eu não tenho”.[GODARD,1993]

O passamento de Jean-Luc Godard, o crítico cineasta, operou como um estimulo a reflexão mais diversas sobre seu legado. No entanto, o retorno ao seu legado tem-se dado na direção da sua produção cinematográfica, deixando de lado sua contribuição a crítica cinematográfica.

Nesta nota busco destacar a visão deJean-Luc Godard da crítica, em contraste com a de Manoel de Oliveira. A fonte é um diálogo que segundo registro de Alain Bergala, realizouse em 1993, ano da estreias nas salas do cinema parisiense dos filmes “O Vale Abraão”, de Manoel de Oliveira, e “Infelizmente Para Mim”, de Jean-Luc Godard. Quando o francês, na condição de crítico, provocou um encontro dos dois para lançar uma discussão “científica” sobre os dois filmes, no bojo da qual se evidenciou suas compreensões do papel da crítica, as quais destaco nessa nota.

Mas de Manoel Oliveira concebe a crítica ex post, ou seja, como complemento, a última etapa do filme:

“O filme não está terminado até o momento em que a crítica foi feita. Um bom crítico, inteligente, atento, sensível, é o representante dos espectadores, ele vai completar o filme que, na minha opinião, não está terminado quando eu o termino, ele vai completá-lo. Essa dinâmica entre o espectador e a tela é de fato essencial, ela faz parte do filme. Eu digo: o espectador, e não o público. O público é algo abstrato, o espectador é pessoal”[OLIVEIRA,, 1993]

Enquanto que J-L Godard o cineasta, militante da crítica cinematográfica, a concebe ex ante, como insumo, uma necessidade, de forma que sua falta compromete o processo de criação e de produção:

Ele parte da enunciação da sua expectativa, a qual:

“[…] não é que me digam boas coisas, mas só tem gente que diz ou escreve: “Seu filme é terrível, é fantástico, é genial, é extraordinário!” Aí eu pergunto a elas: “É? O que é tão extraordinário?” E elas me respondem: “Ah! Oh!”, eles não têm mais palavras, eles nem repetem “É extraordinário”. Ao passo que se me fizer uma observação de que é muito fraco, que há erros, então eu acredito que existe aí uma chance para dialogar: será que você pode me dizer quais são os erros? É assim que testamos o fato de que hoje os críticos não querem mais falar e que os cineastas não gostam que os critiquem. Mas eu, que fui formado como crítico, a única necessidade que eu tenho verdadeiramente é que me digam: aquilo ali não está bom. […] . Só a Nouvelle Vague disse isso.” [GODARD,1993 ]

Para Godard, o exercício da crítica no âmbito da Nouvelle Vague botava o dedo na ferida, matava a cobra e mostrava o pau, ela dizia:

“[…]esse travelling é bom e eis aqui por que achamos ele é bom em comparação com aquele diálogo que é ruim. Hoje, isso se perdeu completamente.”

A explicação de Godard para o recesso da crítica deve-se a ascensão da “ noção de autor”, o qual segundo ele ganhou uma tal importância que agora quando se faz um filme até o seu assistente não critica. E na sua condição de um cineasta autoral reconhece no seu produtor o único crítico, pois é único que às vezes tem um pouco de coragem de criticá-lo e lhe “Jean-Luc, isso não funciona.” No que reconhece a ancoragem para sua única “possibilidade de reflexão”[GODARD,1993]

Concluindo: Duas visões da crítica cinematográfica. A de M. de Oliveira concebe a crítica ex post como complemento do filme isolado. A de J-L Godard entende a crítica ex ante, como um insumo não apenas a concepção do filme, mas a própria cinematografia do autor.

REFERÊNCIA

Jean-Luc Godard e Manoel de Oliveira (fragmento),sábado, 18 de abril de 2015. http s://coletivoatalante.blogspot.com/2015/04/jean-luc-godard-e-manoel-de-oliveira.html?m=1

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Ihering Guedes Alcoforado
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Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

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