A COLECIONADORA (La collectionneuse,1967)

Ihering Guedes Alcoforado
2 min readSep 30, 2022

--

IHERING GUEDES ALCOFORADO

Haydée (Haydée Politoff)

A Colecionadora ((La collectionneuse,1967) ) é o primeiro longa-metragem de Éric Rohmer e é o que contém diálogos estéticos e éticos de mais alta voltagem. Os três prólogos iniciais introduzem Haidée, a colecionadora de homens a partir de dois planos sequencia : um que a expõe da sua inteireza caminhando na praia e outro que destaca partes fetiche do seu corpo, a exemplo de pés, joelho e pescoço, os dois prologos seguintes são reflexões sobre a natureza da arte e da beleza. O conjunto estabelece a chave para a apreciação do núcleo do filme e sua personagem central, que com sua “atuação” e “ato” potencializa a reflexão dos diálogos e voz em off em torno da misteriosa relação entre os homens e as mulheres.

O primeiro prológo é bem curto e se resume a uma apresentação física de Haydée (Haydée Politoff) essaltando seu corpo por meio de dois planos sequencia> no primeiro o plano aberto que capta seu estilo leve e descontraída e, o segundo em close, que destaca as as partes fetiche do seu corpo: pés, pescoço, boca. O segundo é um dialógo entre Daniel (Daniel Pommereulle) e seu interlocutor (Alain Jouffroy,) sobre a natureza da arte e, o terceiro é um diálogo entre Mijanou (Mijanou Bardot), uma fotografa namorada de Daniel e Annick (Annick Morice) sobre a beleza.

A trama é vocalizada por meio dos diálogos entre o negociante de arte Adrien e o artista Daniel, homens jovens, desfrutam o ócio durante um verão na casa de um amigo, Rodolphe, em Saint-Tropez, na Riviera Francesa, e que são obrigados a dividir o espaço com a jovem e livre Haydée, amiga do dono da casa, considerada como desprezível: uma burrinha, rosto redondo, cabelo curto, charmosa e gostosinha que vive pedindo favores, mas que na sua vulgaridade autêntica se torna irreessistivel do que aproveita para formar sua coleção.

É em torno de torno de Haydèe que Éric Rhomer com a elegância de um romance do século XVIII, desenvolve toda uma rede de relações envolvendo Adrien e Daniel, personagens adultas e fortes, e não quase adolescentes e fracas como vai acontecer nos filmes subsequentes.

O dialogo entre os personagens e os monólogos em off vocalizados por Adrien passam sempre pelo verbo e pelas construções intelectuais, por meio do que se evidencia um complexo e sutil jogo de sedução, provocado e comandado por Haydée, uma colecionadora de homens: a mais sedutora personagem de Éric Rhomer.

Em função disso se pode considerar que o núcleo do filme é dedicado aos desvelamento da complexa personalidade de Haidée, em especial a relação de atração de repulsa que ele provoca no jogo de sedução, um objeto recorrente na cinematografia de Éric Rohmer.

--

--

Ihering Guedes Alcoforado
Ihering Guedes Alcoforado

Written by Ihering Guedes Alcoforado

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

No responses yet